lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Marcada manifestação domingo em Madrid para exigir protecção do lobo-ibérico

Pelo segundo ano consecutivo, cerca de cem organizações não governamentais (ONG) vão manifestar-se no coração de Madrid para exigir a protecção do lobo-ibérico (Canis lupus signatus), “ícone da vida selvagem e da conservação”, e o fim dos controlos populacionais e das “matanças” em Espanha.

 

No ano passado, a 13 de Março, milhares de pessoas saíram às ruas em Madrid para pedir a protecção do lobo-ibérico. O pedido voltará a repetir-se neste domingo, dia 12 de Março. A manifestação acontecerá às 12h00 na Praça da Atocha – em frente ao Ministério da Agricultura e Pesca, Alimentação e Ambiente – e terminará na Puerta del Sol, onde será lido um manifesto cerca das 13h30, segundo a agência espanhola EuropaPress.

A convocatória foi lançada pelas ONG Lobo Marley, Equo, Ecologistas en Acción, WWF, European Greens e Aliança Europeia para a Conservação do Lobo. Estas exigem à administração central e autonómicas que travem a “constante matança” de lobos e que instaurem uma “protecção efectiva e real” da espécie. Pedem que o lobo “deixe de ser uma espécie cinegética e que seja protegida a 100% em todo o território, como já acontece em Portugal”, escreve a WWF em comunicado. “Em Portugal, a espécie está estritamente protegida em todo o território, mas em Espanha há um amplo leque de situações que vão desde a protecção total da espécie à possibilidade de ser abatida de várias maneiras”, acrescenta a organização.

Actualmente Espanha terá entre 2.000 e 2.500 lobos. Os organizadores da manifestação lembram que esta espécie é um controlador natural dos herbívoros selvagens e representa a saúde dos ecossistemas, razão pela qual a União Europeia declarou o lobo como espécie de interesse comunitário.

A presença do lobo em Espanha é desigual. As populações no Sul (Serra Morena, Serra da Gata e San Pedro) estão quase extintas e estão protegidas, enquanto que as do Norte (Galiza, Astúrias e Castela e Leão) estão a expandir-se, chegando a Madrid e Guadalajara. Aqui são animais cinegéticos.

Mas tanto a Norte como a Sul do rio Douro, os lobos estão a ser abatidos, com a justificação de diminuir os ataques ao gado. “Está mais do que provado que abater lobos não consegue esse objectivo e, inclusivamente, pode fazer aumentar o problema”, consideram os organizadores do evento deste domingo.

A WWF diz opor-se à caça ao lobo em toda a Espanha e denuncia como “especialmente grave” que a Administração pública permita a sua caça a Sul do Douro, “com o consentimento da Junta de Castela e Leão”. Aqui, onde a espécie é protegida, “já foram abatidos vários exemplares, não fazendo caso da legislação nem da mobilização dos cidadãos para o evitar, por pressão de alguns criadores de gado”.

A organização diz que a solução passa pela “prevenção e pelo diálogo com os criadores de gado”. Entre as medidas defendidas pela WWF está o pagamento rápido e justo de indemnizações em caso de ataque ao gado, uso de vedações e cães de gado, recuperação da figura do pastor e desenvolvimento de planos de criação de gado extensiva.

Em Portugal, o mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

Há 28 anos que esta é uma espécie protegida em Portugal, desde que a Lei nº90/88, de 13 de Agosto, estabeleceu pela primeira vez as bases para a protecção do lobo-ibérico. Em 2005 foi classificado com o estatuto de Em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.