Migração de borboletas-monarca recupera depois de anos de declínio

Todos os anos, milhões de borboletas-monarca migram do Canadá e Estados Unidos para o México, onde passam o Inverno, numa das migrações de vida selvagem mais assombrosas do planeta. Depois de anos de declínio, a espécie está, finalmente, a recuperar.

 

Na temporada 2015-2016, a superfície ocupada pela borboleta-monarca (Danaus plexippus) nas florestas mexicanas atingiu os 4.01 hectares, uma área três vezes maior do que no ano anterior, quando se registaram 1.13 ha. Estes números foram anunciados na semana passada durante uma conferência de imprensa por peritos do México, Estados Unidos e Canadá, os três países envolvidos na conservação da espécie.

Os censos feitos anualmente à espécie – nos 11 santuários com presença histórica de borboletas – registaram nove colónias de borboletas-monarca: quatro colónias (2,91 ha, 72.57% da superfície total) dentro da Reserva da Biosfera Mariposa Monarca e cinco colónias (1,10 ha, 27.43%) fora dela. A monitorização é feita todos os anos desde 2003 pela Aliança WWF-Telcel e a Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas (CONANP) da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMARNAT), através de um software de análise espacial.

“A superfície ocupada pela borboleta monarca nos santuários mexicanos aumentou nas duas últimas temporadas, o que pode sugerir o início da recuperação desta borboleta desde que em 2013-2014 atingiu os níveis mais baixos em 20 anos, com apenas 0,67 ha”, disse Omar Vidal, director-geral da WWF no México, em comunicado.

 

Conferência de apresentação dos resultados dos censos, a 26 de Fevereiro. Foto: Conanp
Conferência de apresentação dos resultados dos censos, a 26 de Fevereiro. Foto: Conanp

 

Numa das migrações de vida selvagem mais assombrosas do planeta, as borboletas-monarca migram até 4.200 quilómetros desde o Canadá e Estados Unidos para estabelecer as suas colónias nas florestas do México.

As principais ameaças a esta borboleta são a redução do habitat onde se reproduz nos Estados Unidos, a desflorestação e degradação das florestas nos sítios onde passa o Inverno no México e as condições climáticas extremas no Canadá, Estados Unidos e México. Segundo a WWF, a combinação destas ameaças levou à dramática diminuição da densidade de borboletas que passam o Inverno no México.

Para a organização conservacionista, o caminho a seguir é claro. “Nos Estados Unidos é preciso restringir o uso de herbicidas que matam a planta da qual se alimentam as larvas da borboleta e também restaurar o habitat de reprodução perdido nas últimas décadas. No México deve-se instaurar um sistema de vigilância permanente que evite a desflorestação ilegal nos santuários de hibernação”, acrescentou Omar Vidal.

Na última década tem sido reforçada a reflorestação no México, com árvores de 12 viveiros comunitários, e a luta contra o abate ilegal de árvores, através da vigilância de 37.500 ha de florestas por 12 brigadas comunitárias.

Os Estados Unidos anunciaram, em Fevereiro do ano passado, um pacote de iniciativas para travar o declínio da borboleta-monarca, como projectos de restauro em cerca de 81.000 hectares de habitats, incluindo mais de 750 pátios de escolas e jardins, e a criação de um fundo de conservação para dar subsídios a agricultores e gestores de terrenos para que conservem os habitats.

“Agora, mais do que nunca, México, Estados Unidos e Canadá não podem baixar os braços”, acrescentou Omar Vidal. “É preciso redobrar os esforços conjuntos para proteger e restaurar o habitat das borboletas em toda a rota migratória”. Os três países querem aumentar para seis hectares a superfície ocupada pela borboleta até 2020.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.