Morreu Mário Ruivo, pioneiro na defesa dos oceanos

Mário Ruivo, pioneiro na defesa dos oceanos em Portugal e no mundo, morreu nesta manhã aos 89 anos. A Universidade do Algarve já decretou três dias de luto académico.

 

Mário Ruivo (1927-2017) sempre teve uma paixão, os oceanos. Desde cedo escolheu esse caminho, enquanto biólogo de formação pela Universidade de Lisboa (1950). Pouco depois especializou-se em Oceanografia Biológica e Gestão dos Recursos Vivos Marinhos na Universidade de Paris – Sorbonne, Laboratoire Arago (1951-54).

Entre 1961 e 1974 desempenhou cargos dirigentes nas Nações Unidas, nomeadamente na FAO, enquanto director da Divisão dos Recursos e Ambiente Aquático daquela instituição; na década de 80 (1980-1989) esteve na Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO. Foi Conselheiro Científico da EXPO’98 e membro/coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos.

Participou no processo respeitante ao estabelecimento, em Lisboa, da European Maritime Safety Agency (EMSA, 2002) e foi promotor e presidente (2002-2008) do European Centre for Information on Marine Science and Technology (EurOcean).

Autor de várias publicações sobre Oceanografia, Governação e Cooperação em Assuntos do Oceano, era também presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), organismo do qual foi fundador.

 

“Legado inultrapassável”

 

Foto: CNADS

“Livre e comprometida, foi toda a vida pública do Prof. Mário Ruivo. Na política, mas sobretudo no ambiente, deixa um legado inultrapassável”, segundo uma nota de pesar do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. “A sua acção determinada e conciliadora define um caminho claro para um Portugal mais justo, sustentável e com um melhor futuro”, acrescenta.

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, escreveu hoje que Mário Ruivo foi “um reputado cientista, pioneiro na defesa dos oceanos e no lançamento das políticas de ambiente em Portugal”.

Numa nota publicada no site da Assembleia da República, Ferro Rodrigues salienta ainda o “percurso pessoal, académico e profissional ímpar” de Mário Ruivo, que esteve na base do seu reconhecimento pelo Parlamento Europeu com o Prémio Cidadão Europeu 2015.

“Neste momento de tristeza, quero transmitir os meus sentimentos de pesar à sua família e amigos, e agradecer, em nome da Assembleia da República, a colaboração abnegada que o Professor Mário Ruivo sempre prestou ao Parlamento.”

Também o reitor da Universidade do Algarve, António Branco, manifestou hoje, em nome de toda a comunidade académica, “o mais profundo pesar” pelo falecimento de Mário Ruivo e endereçou à família e aos amigos “as mais sinceras e sentidas condolências”. A instituição “solidariza-se com este momento de tristeza, decretando três dias de luto académico”.

Segundo a Universidade do Algarve, Mário Ruivo é “um dos pais do novo regime do Oceano e da integração deste nos objetivos do desenvolvimento sustentável”. “Dedicou-se à investigação, ensino, promoção da cooperação em assuntos do mar e sensibilização de governos e opinião pública a uma governação responsável do Oceano.”

O IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) considera Mário Ruivo “o mais significativo divulgador das temáticas do mar e incansável defensor da necessidade de uma governação responsável e uma utilização sustentável dos oceanos”.

As cerimónias fúnebres irão decorrer a partir das 17h00 de hoje, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, onde o corpo irá estar em câmara ardente. Amanhã, pelas 15h00, sairá da Gare de Alcântara para o Cemitério dos Prazeres.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.