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Foto: Joana Bourgard / Wilder

Na UE, 77% dos habitats estão em estado de conservação mau ou desfavorável

O estado de conservação dos habitats europeus é preocupante. Um relatório sobre o estado da Natureza na União Europeia (UE), agora divulgado, indica que 77% dos habitats europeus estavam em estado desfavorável ou mau de conservação, entre 2007 e 2012.

O relatório “State of Nature”, que ficou ontem a conhecer-se, baseia-se em dados fornecidos pelos Estados-membros da UE e foi elaborado pela Agência Europeia do Ambiente (AEA). Em anexo, há ainda um relatório técnico com dados de cada país.

O documento mostra que apenas 16% dos habitats europeus registados se encontram num estado de conservação favorável.

Quase metade do total de habitats (47%) estão em situação inadequada e quase um terço (30%) em mau estado. Os prados, as zonas húmidas e os habitats nas dunas são os que causam mais preocupações.

Quanto a Portugal, 29,5% dos habitats registados estão em estado favorável, mas outros 58,3% surgem numa situação inadequada e 8,3% em más condições de conservação.

As principais ameaças para os habitats europeus, apontadas pelo relatório, estão ligadas à agricultura – o que inclui a alteração dos métodos agrícolas utilizados, com práticas cada vez mais intensivas, e um excessivo recurso a pastagens.

Outra ameaça são as “modificações de condições naturais” com impacto principalmente nos recursos hidrológicos, devido às mudanças operadas em cursos de água.

A pesca excessiva está também a afectar os mares europeus, com uma grande parte de espécies ameaçadas concentradas nos habitats marinhos, nota uma notícia da BBC.

No que respeita às aves selvagens, a maioria das espécies protegidas parece estar a recuperar. Mas 32% do total de aves na Europa estão ainda sob ameaça ou encontram-se em declínio, incluindo espécies mais conhecidas como a laverca (Alauda arvensis) ou o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa).

Mas também há boas notícias: o relatório aponta que os sítios da rede Natura 2000 parecem estar a proteger todas as espécies que neles vivem.

Hans Bruyninckx, director executivo da AEA, afirmou que “os resultados são mistos mas claros”.

“Quando bem aplicadas, as medidas de conservação trabalham bem e melhoram o estado dos habitats e das espécies. Estas melhorias mantêm-se limitadas e retalhadas. A diversidade da Europa está ainda a ser erodida no geral – e as pressões continuam”, sublinhou, citado pelo site da televisão britânica.

O novo relatório vai ser um dos documentos analisados pelas autoridades europeias no processo de avaliação que está em curso quanto à legislação de conservação da natureza na Europa, nomeadamente as directivas Aves e Habitats, que pode vir a resultar numa mudança de regras.

No dia 12 de Maio, mais de 90 organizações não governamentais para o ambiente, por toda a Europa, uniram-se numa campanha de defesa das duas directivas, a SOS Nature, que inclui Portugal.

De seis em seis anos, os Estados membros informam as autoridades europeias sobre o estado de conservação das espécies e habitats protegidos pelas directivas comunitárias, num total de cerca de 240 espécies de aves, 231 tipos de habitat e mais de 1200 outras espécies.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.