Nem todas as espécies de aves cuidam dos ovos da mesma maneira

O tempo e o esforço que as aves canoras gastam a incubar os seus ovos estão directamente correlacionados com a sua própria probabilidade de sobrevivência e a dos seus ovos, segundo um estudo da Universidade de Montana a ser publicado na revista “The American Naturalist”.

 

Os cuidados que os progenitores dão às suas crias varia muito no reino animal, especialmente entre as espécies de aves canoras. Estas gastam entre 20 e cerca de 100% das horas de luz a aquecer os ovos nos seus ninhos. Uma equipa de investigadores liderada por Thomas Martin, da Unidade de Investigação em Vida Selvagem naquela universidade, foram descobrir porquê.

“As razões pelas quais as espécies diferem nos cuidados que providenciam às suas crias tem sido um mistério há muito tempo e algo que interessa os cientistas, uma vez que isso influencia a qualidade e a sobrevivência da descendência”, disse Martin em comunicado.

Os investigadores estudaram comportamentos de cuidados parentais, temperatura dos ovos e taxas de mortalidade de adultos em 63 espécies de aves canoras. O estudo, que abrangeu duas décadas e quatro continentes, concluiu que as espécies com maior duração de vida e, por isso, com mais oportunidades de reprodução – algo mais comum nos trópicos – estão menos dispostas a gastar energia e os riscos de mortalidade associados a manter os seus ovos quentes.

Ao mesmo tempo, espécies que vivem menos tempo esforçam-se mais em cuidar das suas crias porque podem não ter outra oportunidade para se reproduzir. Em ambos os casos, as aves canoras pesam a longevidade contra o risco dos seus ovos serem comidos por predadores. Espécies com uma maior probabilidade de os seus ovos serem predados investem mais em manter os seus ovos quentes, uma vez que ovos quentes levam menos tempo a eclodir, diminuindo o tempo que os embriões estão expostos ao risco da predação.

As espécies de aves canoras diferem no seu risco de predação principalmente baseadas no local onde fazem os ninhos. As espécies que fazem os ninhos em cavidades nas árvores, por exemplo, têm um risco muito baixo de predação, enquanto que as espécies que nidificam num arbusto têm um risco muito maior. As espécies estudadas variaram extensivamente no tempo e cuidados prestados em aquecer os seus ovos. Algumas, como o Bornean stubtail (Urosphena whiteheadi), endémica da ilha do Bornéu, gasta apenas 20% das primeiras sete horas de luz a aquecer os seus ovos. Outras, como o Warbling vireo (Vireo gilvus), comum na América do Norte, gasta quase 100% daquelas horas a incubar os seus ovos.

O estudo está online aqui e vai ser publicado em Agosto na revista “The American Naturalist”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.