Nesta reserva da Tanzânia, os elefantes vão passar a usar colares GPS

Não é por uma questão estética que os elefantes da Reserva de Vida Selvagem de Selous, na Tanzânia, vão passar a usar colares. É uma questão de sobrevivência e um dos maiores esforços do país para proteger estes animais.

 

Os últimos 40 anos viram desaparecer 90% dos elefantes da Reserva de Vida Silvestre de Selous, na Tanzânia. A desenfreada caça furtiva de elefantes para obter marfim dizimou a população de 110.000 animais, restando hoje apenas 15.200. Em 2014, a UNESCO incluiu esta Reserva na sua Lista do Património Mundial em Perigo, precisamente por causa da caça furtiva de elefantes.

 

 

Nos próximos 12 meses, o Governo daquele país e a organização WWF vão colocar colares GPS em 60 elefantes daquela Reserva e na área em redor, anunciou ontem em comunicado esta associação. O objectivo é ajudar os guardas da reserva a proteger os elefantes dos caçadores furtivos e assim tentar recuperar esta população.

Esta iniciativa começou a 20 de Março, com a colocação de colares em dois elefantes da população da Reserva Selous, no contíguo Parque Nacional Mikumi.

 

 

Para colocar um colar a um elefante, primeiro o animal é sedado através de um dardo. Quando o elefante está sedado, a equipa coloca o colar e recolhe dados sobre a saúde do animal. Isto demora até 30 minutos. Depois o elefante recebe um antídoto para acordar e volta para a sua manada.

Os colares GPS enviam dados via satélite para os telemóveis dos técnicos que fazem a segurança da Reserva. Isto permite-lhes seguir os elefantes e identificar e agir contra as ameaças em tempo real. Estes dados também poderão alertar as equipas no caso de os elefantes se estarem a dirigir para povoações e ajudar a desviá-los dos campos agrícolas, reduzindo o risco de conflito entre pessoas e animais.

“Num lugar tão extenso como a Reserva Selous, onde a caça furtiva continua a existir, é fundamental ter a melhor informação possível sobre o paradeiro dos elefantes para antecipar os riscos que possam enfrentar, incluindo ataques fatais de caçadores furtivos”, explicou Asukile Kajuni, coordenador adjunto para os programas de conservação de elefantes da WWF – Tanzânia. “Os colares vão permitir que as equipas de protecção da vida silvestre estejam um passo à frente dos caçadores.”

 

 

A WWF está a trabalhar com as comunidades locais e com o Governo no sentido da tolerância zero para com a caça furtiva.

“Conseguir um mundo livre de caça furtiva é um objectivo ambicioso, mas é o tipo de compromisso que devemos cumprir se quisermos enfrentar a crise mundial da biodiversidade e garantir que as gerações futuras conheçam e admirem os elefantes e as outras espécies selvagens”, comentou Margaret Kinnaird, responsável da WWF. “Todos os anos, uma média de 20.000 elefantes são mortos em África por causa do marfim. Isto é inaceitável e tem de acabar agora.”

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O programa de colocação de colares GPS está a ser liderado por investigadores e veterinários do Instituto de Investigação da Vida Silvestre da Tanzânia (TAWIRI), com o apoio da Autoridade de Vida Silvestre da Tanzânia (TAWA) e da Autoridade de Parques Nacionais da Tanzânia (TANAPA).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.