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Ouriço-cacheiro (Eurinaceus europaeus)

No Algarve, já foram devolvidos à natureza mais de 200 animais em dois meses

Em Junho e Julho regressaram à natureza 202 animais selvagens tratados no Rias (Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens), em Olhão. Desde Janeiro, já ali tinham dado entrada 1.110 animais, um número recorde que inclui águias, corujas, ouriços-cacheiros e mesmo uma lontra, e que até pode ser um bom sinal, como explicou à Wilder Sofia Costa, colaboradora deste centro.

Localizado na zona da Ria Formosa, o Rias funciona todo o ano, recebendo animais selvagens feridos vindos do Algarve e do Baixo Alentejo. Chegam ali entregues por cidadãos comuns e também pelas autoridades responsáveis, o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas e as equipas Sepna da GNR.

O número de ‘hóspedes’ teve “um aumento substancial” nos últimos três anos, com um recorde de 1.977 animais em 2016, adianta uma nota divulgada pelo Rias. Mas os 1.110 animais recebidos já este ano, acrescenta Sofia Costa, significam que já “entraram mais 100 animais entre Janeiro e Julho do que no mesmo período do ano passado”.

Mas será por haver mais problemas e casos que precisam de tratamento? A responsável do centro acredita que não. “Acreditamos que há cada vez mais divulgação e que por isso há mais pessoas a virem ter connosco, quando encontram um animal selvagem a precisar de ajuda.”

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Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus)

Neste momento estão em recuperação 157 animais: “Águias, corujas, falcões, cegonhas, ouriços-cacheiros, cágados, andorinhas e até uma lontra”, descreve a nota do Rias.

O trabalho no Verão é sempre mais intenso. Por um lado, dá-se um “aumento da população na região durante esta época que resulta num maior número de animais detectados no campo”; por outro, “devido aos juvenis nascidos na Primavera e que, nesta altura, experimentam realizar os primeiros voos, muitas das vezes sem sucesso.”

“Muitos casos são por quedas de ninhos. Chegam-nos muitos pequenos passeriformes, gaivotas, mochos e corujas, que estão também a aprender a voar. E os mochos e corujas, nesta altura do ano, estão a aprender a caçar”, explica Sofia Costa.

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Andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum)

Assim, em Junho e Julho, entraram por dia 11 animais, em média, num total de 649 recebidos nesse período. Por outro lado, nestes dois meses “muito agitados” foram devolvidos à natureza 202 animais recuperados pelo centro.

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Águia-d’asa-redonda (Buteo buteo)

As aves representam cerca de 90% das entradas. Quanto aos restantes, como os mamíferos, muitos dos casos são de animais atacados por cães ou gatos ou que ficaram órfãos ainda bebés.

A primeira lontra bebé

Foi o caso da primeira lontra acolhida no Rias, encontrada órfã na zona do Guadiana e entregue há dois meses por vigilantes do Parque Natural do Vale do Guadiana, ainda a precisar de ser alimentada com biberão, lembra Sofia Costa.

“Chegou-nos órfã muito pequenina, com cerca de um mês, ainda sem dentes.”

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Lontra (Lutra lutra)

Esta lontra, que veio da zona do Guadiana, em Mértola, já come neste momento pequenos peixes. A próxima fase será confirmar se a pele já tem a capacidade de ser impermeável para poder ter contacto com a água.

“No início teve muito contacto connosco e estávamos a ficar preocupados, mas entretanto colocámos a lontra numa instalação quase sem contacto com humanos e já está com um comportamento muito mais selvagem. Já bufa se vê alguém.”

Mas para já, adianta Sofia Costa, ainda é muito imprevisível saber quando poderá ser devolvida à natureza.

Certo é que com uma equipa fixa de cinco técnicos, os responsáveis do centro não têm mãos a medir. Além destes trabalhadores, o Rias também costuma ter cinco voluntários que ali chegam para aprender e estagiar, vindos de cursos universitários ou de outros programas ligados ao ensino.

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Agora é a sua vez.

O Rias é um dos dois centros de reabilitação de animais selvagens geridos pela associação Aldeia. Para ajudar o Rias, pode fazer um donativo ou apadrinhar um animal.

O centro aceita também rações para cães e gatos, tanto secas como húmidas, que são depois dadas como alimento aos ouriços e texugos bebés, misturadas com outras comidas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.