Dois pinguins em cima de um bloco de gelo no mar
Pinguins no Antártico. Foto: Pixabay

Campanha quer transformar Antártico na maior reserva de vida selvagem do mundo

Uma nova campanha internacional lançada pela Greenpeace apela à criação da maior zona protegida para a vida selvagem desde sempre no Oceano Antártico, junto ao Pólo Sul, no seguimento de uma proposta da União Europeia. Nessa área, caberiam cinco Alemanhas.

 

A proposta dos ambientalistas é proibir toda a actividade pesqueira numa área de 1,8 milhões de quilómetros quadrados, situada no Mar de Weddell e em torno da Península Antártica, indica o The Guardian.

“Este santuário seria um refúgio seguro para pinguins, baleias e focas, e colocaria estas águas fora do alcance para as embarcações da indústria pesqueira que estão a ‘sugar’ os minúculos crustáceos do krill, que são a base da vida do Antártico”, apela a coordenadora da nova campanha, Frida Bengtsson, numa nota da Greenpeace.

O krill que é pescado – hoje em dia através de métodos de sucção – destina-se a alimentar os peixes nas quintas de piscicultura e ao fabrico de suplementos de ómega-3. Ocorre em todos os oceanos, mas é mais numeroso no Antártico, onde alimenta por exemplo baleias e pinguins, e considera-se que é fundamental para a captura de carbono.

 

um pinguim-imperador e a sua cria, no meio da neve
Pinguins-imperador (Aptenodytes forsteri), uma das espécies da Antártida. Foto: Pixabay

 

Sob o lema “Proteger o Antártico”, a campanha nasceu para apoiar uma proposta feita pela União Europeia, de criação de um santuário no Mar de Weddell, que vai estar em cima da mesa numa reunião da Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos do Antártico (CCAMLR), em Outubro deste ano.

Até lá, além da recolha internacional de assinaturas, a Greenpeace quer investigar a fundo a área para onde está prevista a reserva, recolhendo provas para a campanha. Com esse fim, uma equipa de 35 cientistas, activistas e tripulantes de navio partiram esta segunda-feira no ‘Arctic Sunrise’ rumo ao Mar de Weddell.

“A expedição vai ter os primeiros humanos que alguma vez visitaram o fundo do Mar de Weddell”, indica uma nota da organização. “Cientistas especialistas no Antártico vão conduzir pequisas para identificar ecossistemas marinhos vulneráveis e novas espécies nas profundezas, incluindo corais e esponjas raros.”

Prevista está também a recolha de amostras da água deste oceano, para se procurarem vestígios de poluição por plásticos, numa viagem que tem o regresso previsto para dentro de três meses.

Depois, em Outubro, tanto as provas recolhidas na expedição como o apoio da opinião pública internacional vão ajudar a defender a proposta, na reunião da CCAMLR. Esta organização internacional tem como missão defender a vida marinha no Antártico.

A União Europeia e vários países europeus, como a Espanha, a França, o Reino Unido e a Polónia estão entre os 25 Estados-membros desta organização, criada em 1980. Já Portugal não faz parte, nem entra no grupo de 11 Estados-aderentes, “interessados em pesquisas ou actividades de colheita” na área coberta pela Convenção.

“Um santuário no Oceano Antártico iria não só salvaguardar pinguins, baleias e focas que são únicos nesta área incrível, mas também assegurar que o oceano está suficientemente saudável para ajudar a mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas”, sublinhou Frida Bengtsson.

A nova proposta não parte totalmente do zero. Em Dezembro passado, já tinha entrado em vigor uma vasta área protegida para a vida selvagem no Mar de Ross, no Antártico, com uma dimensão que equivale a duas Espanhas.

Já o Oceano Ártico, também no final de 2017, foi objecto de uma moratória que proíbe a pesca durante 16 anos, numa área de 2,8 milhões de quilómetros quadrados que equivale ao tamanho do Mar Mediterrâneo. O acordo foi assinado em Washington por nove países e pela União Europeia.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.