Novo estudo mostra que insecticida prejudica abelhas rainhas

O insecticida mais vendido no mundo pode prejudicar a capacidade para a abelha rainha e para as restantes abelhas manterem uma colónia saudável, alerta um novo estudo coordenado por uma entomóloga da Universidade de Nebrasca-Lincoln.

 

Este estudo, publicado recentemente na revista Scientific Reports, quis saber quais os efeitos na abelha rainha e na sua colónia da imidacloprida, que pertence à classe dos chamados neonicotinóides. Estes são insecticidas de largo espectro, comercializados em mais de 120 países, que têm como alvo insectos considerados como pragas pelos agricultores.

Mas as abelhas domésticas (Apis mellifera) acabam por sofrer os seus efeitos, ainda que de forma não intencional. Mesmo as culturas tratadas com imidacloprida que as abelhas normalmente não polinizam, como o milho, podem contribuir para a exposição destes insectos polinizadores quando os ventos varrem a poeira levantada pelas máquinas de plantação e transportam o insecticida por vários quilómetros. Esta poeira depois assenta em dentes-de-leão, trevos e outras plantas com flor que são fonte de alimento para as abelhas.

A entomóloga Judy Wu-Smart, a principal autora do estudo, e a sua colega Marla Spivak, da Universidade do Minnesota, afirmam que este é o primeiro estudo “a mostrar os efeitos adversos da imidacloprida na fecundidade e comportamento das abelhas rainha” e pode ajudar a melhorar “a nossa percepção de como os neonicotinoides podem prejudicar o funcionamento de uma colónia a curto prazo”.

“As abelhas rainhas têm uma importância particular porque são os únicos indivíduos reprodutores a pôr ovos numa colónia”, explicou Wu-Smart. “Uma abelha rainha pode pôr até 1.000 ovos por dia. A diminuição da sua capacidade para pôr ovos não será imediatamente sentida mas acabará por ter consequências drásticas para a colónia.”

As duas entomólogas estudaram colónias com 1.500 abelhas, 3.000 abelhas e 7.000 abelhas. Algumas colónias receberam alimento normal e outras receberam alimento com várias doses de imidacloprida (10, 20, 50 e 100 partes por mil milhões) durante três semanas.

“Descobrimos efeitos adversos da imidacloprida nas abelhas rainha (postura de ovos e locomoção), nas abelhas obreiras (procura de alimento e actividades de higiene da colmeia) e no desenvolvimento da colónia (produção de descendentes e armazenamento de pólen) em todas as colónias tratadas”, escrevam as autoras no estudo.

Por exemplo, as abelhas rainhas que são expostas a vestígios de imidacloprida põem entre um terço e dois terços menos ovos, dependendo da dose do químico, em relação às abelhas rainhas em colónias livres do insecticida, revela o estudo.

As investigadoras também descobriram que as colónias expostas ao insecticida recolheram e armazenaram muito menos pólen, essencial para alimentarem as larvas que acabam de eclodir.

Alguns efeitos do insecticida eram menos evidentes à medida que o tamanho da colónia aumentava, sugerindo que populações maiores podem actuar como barreira à exposição aos pesticidas.

“As colónias mais pequenas tendem a ser mais vulneráveis porque as abelhas rainha têm mais probabilidades de ficarem expostas”, disse Wu-Smart. Por isso, as investigadoras sugerem a redução da exposição a estes insecticidas no início da Primavera, quando as colónias são mais pequenas e as abelhas rainhas mais vulneráveis.

Infelizmente, disse Wu-Smart, os agricultores normalmente aplicam os insecticidas ou plantam as sementes tratadas com insecticidas nessa mesma altura.

Apesar de Wu-Smart reconhecer que a proibição dos neonicotinoides não é uma medida prática, defende uma regulamentação para as sementes tratadas com insecticidas da mesma maneira que a indústria faz para outro tipo de aplicações, como as pulverizações. “Quando alguém usa um spray para pulverizar um pesticida, deve considerar coisas como o vento e a temperatura, para reduzir a dispersão”, disse Wu-Smart. “Não se pode pulverizar num dia de vento. Com este tipo de sementes tratadas não há rótulos a avisar o agricultor que esta semente foi tratada com um insecticida. Não há restrições para aquilo que se pode plantar.

Este novo estudo representa outro passo para compreender melhor as formas complexas de como os insecticidas afectam as colónias de abelhas domésticas. “Hoje em dia os apicultores verificam que as suas colmeias estão bem, voltam passadas poucas semanas e apercebem-se que a colónia começa a parecer muito fraca. Regressam novamente e a colónia está morta ou a morrer. É um declínio lento da saúde da colónia”, acrescenta.

“Em muitos destes casos, queremos perceber a razão deste declínio quando a colmeia deveria estar no pico da sua produção. Isto não responde a todas as questões, mas é algo, definitivamente, a considerar.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.