um esquilo-vermelho com as quatro patas no chão
Esquilo-vermelho. Foto: Fabien1309 / Wiki Commons

O esquilo vermelho já está a chegar ao Alentejo

Os avistamentos do esquilo vermelho (Sciurus vulgaris), transmitidos por cidadãos, mostram que a espécie vive a Norte do rio Tejo, mas que já está a ultrapassar os limites do rio para sul”, explicou à Wilder a bióloga que coordena o projecto O Esquilo Vermelho em Portugal, Rita Gomes Rocha.

 

Este projecto, iniciado em Setembro de 2013, está ligado à Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia de Universidade de Aveiro (UA) e recorre à ajuda dos cidadãos para descobrir por onde anda o esquilo vermelho em Portugal. Além de Rita Gomes Rocha, é também coordenado por Carlos Fonseca, docente na UA e responsável pela Unidade de Vida Selvagem.

Uma das conclusões é que o esquilo vermelho já não se fica apenas pelo Norte do Tejo, onde a ocorrência da espécie está cientificamente comprovada há vários anos – em especial a Norte do rio Douro e  em alguns locais de reintrodução, como Coimbra e Lisboa. A equipa recebeu registos de avistamentos em vários concelhos a sul: Setúbal, Portalegre, Évora e Beja.

Para estas descobertas tem sido essencial o recurso à ciência cidadã, na qual se baseia o projecto, sublinha Rita Gomes Rocha. Ao todo, até ao momento, a equipa recebeu mais de 1500 registos de esquilo vermelho pelo público em geral: quer num inquérito online que entretanto já terminou, quer através da página do projecto no Facebook. Muitos incluíram fotografias, amostras de pêlo e outros materiais.

Coimbra, Leiria, Lisboa e Porto foram os concelhos onde a equipa da UA recebeu mais relatos de avistamentos. Todavia, o que se pretende é perceber onde ocorre a espécie e não qual a quantidade de indivíduos ao longo do território.

 

 

“A adesão do público foi enorme e a interacção tem sido diária, algo em que o Facebook foi muito importante”, adianta. A bióloga acredita que as pessoas em Portugal “já estão preparadas” para a participação noutros projectos de investigação com base em ciência cidadã.

A equipa da UA prepara-se agora para apresentar os dados sobre a distribuição do esquilo vermelho através de um artigo científico. Mas os resultados também vão “ser apresentados a todo o público que contribuiu para o projecto enviando registos do esquilo”, sublinha a investigadora, que promete esse anúncio para muito breve, na página do Facebook.

Pensa-se que no século XVI o esquilo vermelho se extinguiu em território português – principalmente devido à destruição das florestas que habitava, transformadas em embarcações para os Descobrimentos. De acordo com informação publicada, a espécie teria existido no Norte e Centro do país.

Terá sido apenas vários séculos depois, nos anos 80 do século XX, que este animal voltou a colonizar território português.

Qual a origem do esquilo em Portugal?

Ainda não há certezas, mas essa é outra pergunta a que a equipa quer responder. E a outras questões ainda, como: “Qual ou quais são as rotas de expansão do esquilo? É ou não a população da Península Ibérica diferenciada do resto da Europa?”.

Em busca dessas respostas pretendem fazer também a caracterização genética das populações de esquilo em Portugal e estão a estender o trabalho “à recolha de amostras biológicas, neste caso pêlos de animais atropelados”, através da análise do DNA.

É que esses animais ainda podem ser úteis para o conhecimento sobre a espécie. Rita Gomes Rocha conta que começaram a receber relatos de pessoas, sobre esquilos atropelados, e começaram a pedir-lhes para enviarem uma amostra do pêlo.

Certo é que a equipa do projecto O Esquilo Vermelho em Portugal vai continuar a investigação sobre esta espécie pelo menos durante os próximos dois anos, com base num mestrado suportado pela Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da UA.

 

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se quiser contribuir para o projecto O Esquilo Vermelho em Portugal, Rita Gomes Rocha explica que pode enviar registos através da página do Facebook e também amostras de pêlos de animais atropelados. “São fáceis de recolher, pois é só arrancar o pêlo e guardá-lo num envelope, e enviar-nos”, indica.

Para esclarecimento de dúvidas e mais informações, pode ainda contactar a equipa através do Facebook.

Se tentar avistar um esquilo vermelho, a bióloga explica que o alimento preferido deste animal são as pinhas, pelo que é “extremamente dependente das florestas”. Pode-se distinguir de outros animais pela sua cauda felpuda e ainda, no caso desta espécie, pelos tufos de pêlos nas orelhas. Quanto à cor do pelagem, apesar do nome, esta pode variar imenso: “Desde o vermelho ao preto, até em casos raros uma pelagem mais cinza”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.