O pólen das abelhas pode conter até 30 pesticidas

As abelhas podem transportar no corpo cerca de 30 pesticidas, quando regressam às colmeias, incluindo insecticidas de uso doméstico e anti-parasitantes utilizados em cães e gatos, concluiu um estudo científico agora divulgado.

 

Esta investigação realizado por entomólogos nos Estados Unidos, e agora publicada na revista Nature Communications, analisou os agentes químicos no pólen recolhido por abelhas do mel (Apis mellifera) de colmeias situadas em três campos no Midwest dos Estados Unidos, numa região onde se cultivam grandes extensões de milho.

Mas apesar de se tratar de um território onde se cultiva apenas este cereal, os cientistas encontraram pólen proveniente de 30 grandes famílias de plantas, muitas delas ornamentais. Perceberam ainda que há uma grande quantidade e variedade de químicos no pólen.

“É impressionante a grande quantidade de pesticidas que encontrámos nas amostras de pólen”, sublinha Christian Krupke, co-autor deste estudo e entomólogo na Universidade de Purdue, no Indiana, citado pelo El Pais.

Em dois dos campos analisados, os entomólogos detectaram 29 pesticidas no pólen dessas abelhas. Num terceiro, o número subiu para 31. Fungicidas e herbicidas foram os produtos mais encontrados, mas os insecticidas surgem logo em terceiro.

Entre os agentes químicos detectados, surgem por exemplo os neonicotinóides, pesticidas muito utilizados em culturas de milho e soja e que são considerados uma ameaça para as abelhas, uma vez que lhes provocam desorientação no caminho de regresso às colmeias.

No entanto, os investigadores perceberam ainda que a maioria do pólen encontrado era proveniente de locais exteriores aos campos de milho, contendo também piretróides: um grupo de produtos que surgem por exemplo em insecticidas de uso caseiro ou em parques urbanos e nos anti-parasitantes para animais domésticos.

“Os químicos agrícolas são apenas uma parte do problema”, indicou ainda Christian Krupke, lembrando que apesar de as colmeias analisadas estarem ao lado de campos de cultivo, “as paisagens e lugares urbanos são grandes responsáveis” pela actual situação.

Desde há muitos anos que muitos insectos polinizadores, importantes para o cultivo de inúmeros produtos agrícolas, têm estado em declínio devido a várias ameaças, incluindo o uso de pesticidas e a poluição crescente.

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.