Foto: Helena Geraldes/Wilder
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Onde ver o Outono: oito motivos para visitar este bosque na Serra da Estrela

Um dos melhores locais para admirar as cores do Outono é o Souto da Lapa dos Dinheiros, no Parque Natural da Serra da Estrela. Com a ajuda do CISE, aqui fica um guia para aproveitar ao máximo este bosque de castanheiros e carvalhos.

 

Uma das principais razões para visitarmos este Souto, com cerca de 60 hectares, é a tonalidade quente da folhagem senescente dos castanheiros e carvalhos no Outono, recomenda José Conde, do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE).

Este Souto é um bosque na vertente declivosa de exposição a norte, no extremo sudoeste do Parque natural da Serra da Estrela. Nos últimos anos, a natureza tem vindo a conquistar espaço nesta encosta, por causa do abandono agrícola.

 

Souto da Lapa. Foto: José Conde/CISE

 

Eis oito maravilhas para procurar durante uma visita:

 

Castanheiros (Castanea sativa): o castanheiro domina o estrato arbóreo denso deste bosque e é uma das espécies que enfeita a zona com os tons dourados no Outono. Mas não está sozinho. Não deixe de reparar no carvalho-roble, no carvalho-negral, na aveleira, no ulmeiro e no azereiro, uma espécie relíquia das florestas muito antigas.

 

Souto da Lapa. Foto: José Conde/CISE

 

Musgos e fetos: procure estas espécies que toleram a falta de luz nas áreas onde os castanheiros são maiores, criando zonas de maior sombra. São exemplos os musgos (Polytrichum sp.) e fetos (Blechnum spicant, Polypodium sp. e Polystichum setiferum). Ainda temos de esperar uns meses pela Primavera mas fica já a saber que nestas zonas crescerão prímulas, orquídeas, narcisos e lírios-martagão.

Galeria ribeirinha da ribeira da Caniça e rio Alva: nas margens destes cursos de água, a vegetação é muito desenvolvida, formando uma densa galeria ribeirinha. Aqui dominam espécies lenhosas capazes de suportar os elevados índices de humidade do solo, como os amieiros, freixos e salgueiros. Nestes cursos de água, caracterizados por um regime torrencial, de águas correntes e muito oxigenadas, surgem plantas adaptadas ao elevado hidrodinamismo deste meio, como Carex elata e o musgo Fontinalis antipyretica.

Gineta (Genetta genetta): a gineta é uma das 40 espécies de mamíferos que vivem no Souto da Lapa dos Dinheiros. Observar este belo animal é um momento marcante para quem gosta do mundo natural, mas nem sempre é fácil de o conseguir. Há muitos outros animais que poderá tentar ver, como o javali, a raposa, o texugo, a doninha, a fuinha, pequenos ratinhos, o esquilo (actualmente em expansão) e morcegos.

Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica): com os seus tons dourados, esta bem podia ser uma rainha dos anfíbios dos bosques portugueses. É uma das 10 espécies de anfíbios registados no Souto e que beneficiam dos elevados índices de humidade do solo.

Víbora-cornuda (Vipera latastei): pela sua raridade, esta é uma espécie a procurar. Actualmente sabe-se que no Souto vivem 13 espécies de répteis, incluindo sete espécies de serpentes.

Borboleta aurinia (Euphydryas aurinea): esta borboleta em tons laranja, amarelos e castanhos está protegida pela Directiva europeia Habitats. É uma das espécies de invertebrados a não perder neste bosque.

 

Vaca-loura. Foto: João Gonçalo Soutinho

 

Vaca-loura (Lucanus cervus): no sossego do souto, por entre carvalhos e castanheiros, vive a vaca-loura, o maior escaravelho da Europa. Nesta altura do ano já será difícil de o observar porque a espécie estará na sua fase larvar a alimentar-se de madeira morta e a ajudar a renovar a floresta. Mas é sempre bom saber que estamos em território de uma espécie tão emblemática. Se a quiser observar, volte no final da Primavera e no Verão e até pode participar no censo da espécie.

 

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Envie-nos as suas fotografias e registos destas ou de outras espécies que encontrar no Souto da Lapa dos Dinheiros para o email [email protected]. Ajude-nos a inspirar outros para a beleza deste bosque.

Saiba mais sobre as espécies da Serra da Estrela e quais as actividades onde pode participar no site do CISE. Para este Outono já estão a ser preparadas actividades para que descubra os cogumelos desta serra.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.