Foto: Joana Bourgard

ONU celebra dedicação dos vigilantes da natureza em todo o mundo

Os desafios e riscos que os vigilantes da natureza enfrentam todos os dias, um pouco por todo o mundo, não páram de aumentar, salientou ontem a ONU, no Dia Mundial do Vigilante da Natureza. Em 2016 morreram, pelo menos 105 vigilantes.

 

O tráfico e a caça ilegal de animais selvagens são desafios cada vez maiores para as equipas que estão no terreno a proteger espécies e populações humanas, salienta a ONU, em comunicado divulgado ontem. Além destes riscos, os vigilantes enfrentam outros desafios, incluindo catástrofes naturais como avalanchas e inundações.

“Vigilantes da natureza honrados e trabalhadores dedicam as suas vidas à protecção dos nossos recursos naturais e do nosso património cultural”, disse John Scanlon, secretário-geral do Secretariado da Convenção para o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Espécies de Fauna e Flora Selvagens (CITES). “Em algumas regiões, estes homens e mulheres corajosos encontram regularmente grupos bem armados de caçadores furtivos que não hesitam em usar a violência ou ameaças de violência.”

Em 2016, pelo menos 105 vigilantes da natureza foram assassinados em trabalho, segundo dados da Federação Internacional de Vigilantes.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), na última década mais de 1.000 vigilantes da natureza morreram em todo o mundo. Os países que registaram um maior aumento do número de mortes destes profissionais, nos últimos anos, são a Índia, Tailândia, Quénia e República Democrática do Congo (RDC). Só no Parque Nacional de Virunga, na RDC, 140 vigilantes foram assassinados nos últimos 15 anos.

As áreas mais afectadas são aquelas onde vivem elefantes, rinocerontes e árvores raras, ainda muito procuradas pela madeira.

O trabalho dos vigilantes da natureza na protecção de espécies como os elefantes e os rinocerontes “merece um grande reconhecimento público”, acrescentou John Scanlon. E os resultados são bem visíveis. Segundo a UICN, os vigilantes do Uganda, RDC e Ruanda foram directamente responsáveis pelo aumento do número de gorilas da montanha. E os vigilantes da comunidade Maasai no Quénia ajudaram a aumentar a população local de leões de apenas seis animais para mais de 70.

“Estas histórias de heroísmo salientam a extraordinária paixão demonstrada pelos vigilantes em todo o mundo, quando lutam contra a ganância e ignorância em nome dos maiores esplendores naturais do planeta”, escreve o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).

O Dia Mundial acontece todos os anos a 31 de Julho para reconhecer os vigilantes da natureza que foram feridos ou assassinados em trabalho. Este Dia é celebrado pela comunidade internacional, em especial pelas associações federadas na Federação Internacional de Vigilantes.

A Associação Portuguesa dos Guardas e Vigilantes da Natureza recordou ontem “os companheiros mortos e feridos no cumprimento do dever”. O Dia Internacional serviu de pretexto para fazer “uma pequena pausa no nosso trabalho diário, de reflexão sobre o sacrifício que fazem os Vigilantes da Natureza na protecção da natureza, para recordar os companheiros que faleceram no exercício das suas funções e reflectir sobre a coragem de quem assumiu a continuidade do seu trabalho”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.