Fotografia: Rafael Palomo

Os fins-de-semana são stressantes para os sisões

Os sisões, aves das estepes cerealíferas, têm um nível de stress muito mais elevado durante o fim-de-semana por causa da presença humana, revela um estudo científico publicado hoje na revista “Behavioral Ecology”.

Durante os fins-de-semana há uma maior frequência de actividades humanas nas zonas agrícolas, incluindo a presença de caçadores e de pessoas a caminhar ou a andar de bicicleta, concluíram os cientistas espanhóis do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC).

Os investigadores estudaram as reacções do sisão (Tetrax tetrax), espécie classificada como Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, a estas perturbações nas planícies cerealíferas durante o Inverno. Para medir o nível de stress que estas actividades geram, os investigadores analisaram a hormona corticosterona, presente nas fezes dos sisões. As análises mostraram que o nível de stress aumenta com a intensidade das perturbações, especialmente as relacionadas com a caça, como são a densidade de caçadores ou de cães e a frequência de tiros por minuto.

“Os animais podem entender o homem como uma ameaça ou um possível predador”, explicou, em comunicado, a investigadora Beatriz Arroyo, da Universidade de Castela-La Mancha.

“Também observámos que durante os fins-de-semana os sisões passam mais tempo alerta e a vigiar do que a voar. Depois do fim-de-semana dedicam mais tempo a alimentar-se, provavelmente para recuperarem do gasto energético sofrido durante aqueles dias”, acrescentou.

Os investigadores alertam que a exposição prolongada e repetida a estas perturbações pode ter efeitos negativos nas populações de sisão e até pôr em causa os resultados dos programas de conservação. “Algumas medidas de gestão poderiam ajudar a reduzir o impacto destas actividades, como por exemplo a criação de refúgios de caça com suficientes recursos alimentares para as aves”, concluiu.

Em Portugal, o sisão vive sobretudo a Sul do rio Tejo, em zonas abertas como searas, terrenos incultos e pastagens e alimenta-se de insectos. Para nidificar prefere zonas com alguns arbustos para esconder os ninhos, feitos no chão. Entre Março e Maio defende os seus territórios emitindo vocalizações que lhe são características. Normalmente põe entre três a quatro ovos, segundo o livro “Aves de Portugal”. Depois da época de reprodução, os sisões juntam-se em bandos.

Até meados do século XIX, o sisão seria uma espécie extremamente comum em Portugal, mas as suas populações sofreram grandes declínios por causa das alterações dos habitats e das práticas agrícolas.

[divider type=”thin”]Saiba o que se está a fazer em Portugal.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) tem a decorrer o projecto LIFE Estepárias para conservar o sisão e outras espécies como a abetarda e o peneireiro-das-torres no Baixo Alentejo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.