Cágado-de-carapaça-estriada. Foto: Dudva/Wiki Commons

Os maiores cágados são também os mais coloridos

Se quisermos saber rapidamente se um cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) tem uma saúde de ferro basta olhar para as suas manchas amarelas. Quanto mais intensas, maior é a qualidade do animal, revelam agora investigadores espanhóis, depois de um estudo de oito anos sobre esta espécie selvagem.

 

O cágado-de-carapaça-estriada é uma das duas espécies de cágados selvagens que existem em Portugal, além do cágado-mediterrânico. Hoje em dia está Em Perigo de Extinção por causa da perda do habitat, da concorrência de espécies exóticas, da poluição e captura para fins comerciais.

Durante oito anos, investigadores espanhóis estudaram a relação entre a coloração do cágado-de-carapaça-estriada  e a sua taxa de crescimento. Os resultados, publicados recentemente na revista The Science of Nature, revelam que os animais com um crescimento mais rápido e com tamanho maior têm cores mais intensas.

 

Cágado-de-carapaça-estriada no Delta do Ebro, Espanha. Foto: Albert Bertolero

 

Muitos animais usam as suas manchas de cor como sinais para comunicarem uns com os outros. Isto é especialmente importante nos répteis, mas a função desses sinais está menos estudada. A expressão desta coloração é determinada, em parte, pela presença de carotenóides, um tipo de pigmentos presente em alimentos como a cenoura e o tomate.

“O nosso objectivo era estudar a relação entre a coloração e a taxa de crescimento no cágado-de-carapaça-estriada, um organismo modelo para o estudo da evolução da coloração”, explicou, em comunicado Alejandro Ibánez, investigador do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN), em Madrid, e da Universidade Técnica de Brunswick. “Para isso medimos durante oito anos o crescimento dos exemplares e a intensidade da pigmentação das manchas amarelas na carapaça e nas extremidades, com a ajuda de um espectrofotómetro”.

Dado que a produção de carotenóides implica um grande gasto energético para os animais, seria de esperar que a energia fosse investida ou em crescer mais depressa ou em expressar cores mais intensas. “Os resultados mostram, contrariamente ao esperado, que os indivíduos com taxas de crescimento mais rápidas têm colorações mais brilhantes nas extremidades, ou seja, as cores têm uma maior quantidade de carotenóides”, explicou José Martín, também investigador do MNCN. “Além disso, os indivíduos de maior tamanho têm também cores mais intensas na carapaça”, acrescentou.

“Ainda que não se conheça com certeza científica a função das manchas nesta espécie, graças a este estudo podemos afirmar que a coloração é um sinal fiável da qualidade dos indivíduos”, conclui Ibáñez.

Os carotenóides são pigmentos implicados na coloração dos tecidos de diversos animais. Estes compostos são custosos de sintetizar e apenas são obtidos através de uma dieta rica em verduras como os tomates ou as cenouras. “No caso dos cágados pensamos que a sua principal fonte de carotenóides possa ser o lagostim-vermelho-do-louisiana (Procambarus clarkii)”, espécie exótica invasora, comentou Ibáñez.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui o Paul de Tornada, a casa dos cágados selvagens.

E pode ficar a saber mais sobre estes animais aqui, no artigo “Seis coisas a saber sobre cágados”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.