Ouriços-cacheiros estão a adaptar-se às cidades

O ouriço-cacheiro (Erinaceus europeus) é uma espécie que existe há mais de 15 milhões de anos. Tem sobrevivido a todo o tipo de alterações no ambiente, incluindo a urbanização. Uma investigadora da Universidade de Hamburgo estudou de que forma estes animais se estão a adaptar à vida nas cidades para que possamos ajudar à sua conservação.

 

Para este estudo, a equipa de Lisa Warnecke colocou transmissores sensíveis à temperatura em ouriços selvagens para saber que factores fisiológicos lhes permitem prosperar em zonas urbanas. “Estes transmissores especializados permitem-nos monitorizar os padrões de hibernação e uso dos abrigos no Inverno, e a actividade e dimensão dos seus territórios no Verão”, explicou a principal autora do estudo no Encontro Anual da Sociedade para a Biologia Experimental a decorrer em Brighton, Inglaterra, de 4 a 7 de Julho.

O trabalho de campo foi feito tanto em estradas com muito trânsito como em ruas pequenas e calmas para terem todos os elementos de uma cidade típica.

 

 

Os resultados mostraram que os ouriços urbanos podem ser surpreendentemente flexíveis. “Descobrimos que os ouriços urbanos têm áreas de dispersão nocturnas muito mais pequenas do que os ouriços do campo, 5 hectares contra 50. E ainda que eles ajustam a sua actividade aos níveis de perturbação humana”, acrescentou. Durante o dia, os ouriços mantêm-se quase sempre em jardins privados mas por volta da meia-noite, quando diminui o número de pessoas e de cães, eles saem para se alimentar e procurar parceiros.

Outra descoberta é que os ouriços urbanos têm padrões de hibernação semelhantes aos ouriços do campo. Durante o Inverno, os ouriços entram num estado de torpor para pouparem energia, quando o ritmo metabólico e a temperatura do corpo descem significativamente. “Ficámos surpreendidos por descobrir que os ouriços urbanos têm padrões de hibernação semelhantes aos ouriços do campo”. Isto porque “os ouriços urbanos muitas vezes abrigam-se perto de estradas movimentadas e têm fontes de alimento disponíveis durante o Inverno”.

Isto torna imperativo que os ouriços urbanos possam ter acesso aos jardins com vegetação de abrigo para que não sejam perturbados durante a hibernação. “Os parques e jardins públicos são muito importantes para os ouriços urbanos”, disse ainda a investigadora. “Eles precisam de jardins com vegetação natural e parques públicos menos aparados e arranjados, com muitas áreas de arbustos naturais.” Além disso, os proprietários de jardins privados devem manter esses locais livres de tudo o que possam prejudicar os ouriços. “Os principais problemas são ferimentos causados por vedações ou utensílios de jardinagem e doenças causadas pela ingestão de veneno para ratos”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.