Para uma invasora, quanto mais diferente melhor

Uma espécie tem mais hipóteses de sobreviver num ambiente estranho quanto maior for a diferença de tamanho entre os seus exemplares, descobriu uma equipa de cientistas depois de ter estudado mais de 500 introduções de mamíferos exóticos por todo o mundo.

 

A chave do sucesso invasor é a diferença de tamanho entre exemplares da mesma espécie, conclui a equipa de cientistas liderada por Manuela González Suárez, investigadora do CSIC (Conselho Superior espanhol de Investigações Científicas) na Estação Biológica de Doñana.

Segundo o estudo publicado agora na revista “The American Naturalist”, as espécies de mamíferos cujos exemplares mostram entre si maiores diferenças no seu tamanho corporal em idade adulta têm mais probabilidades de persistir numa região nova e converter-se em invasoras.

Tudo começou quando os cientistas questionaram o que permite classificar uma espécie como provável invasora. A equipa analisou mais de 500 introduções de mamíferos exóticos por todo o mundo, num total de 97 espécies. “Para melhorar a nossa capacidade de detectar possíveis invasoras é preciso considerar a variabilidade entre indivíduos”, explica Manuela González Suárez, em comunicado.

Por fim, o estudo concluiu que a variabilidade pode ser sinónimo de êxito na hora de sobreviver porque significa melhor adaptação a ambientes diferentes.

Desde que o ser humano começou a descobrir e a conquistar novos continentes chegaram animais e plantas a regiões aonde nunca tinham estado antes. “A maioria destas espécies exóticas desapareceu rapidamente. Mas outras estabeleceram-se e, inclusivamente, expandiram-se, tornando-se espécies invasoras capazes de causar grandes danos económicos e ambientais”, acrescenta.

González Suárez dá o exemplo do que aconteceu na Austrália. “Os coelhos foram introduzidos a partir da Europa e devastaram grandes áreas de solos férteis, causando milhões de dólares de prejuízos anuais e a extinção de espécies nativas.”

Na Europa conhecem-se cerca de 13.000 espécies invasoras que geram mais de 12 milhões de euros de prejuízos todos os anos, garante a investigadora.

A equipa acredita que estes resultados são úteis para prever e prevenir futuros problemas com a introdução de espécies. Mas não só. “Perceber por que algumas espécies têm mais probabilidades de sobreviver do que outras, quando são introduzidas, pode ajudar a melhorar as reintroduções de espécies em perigo de extinção”, lembra ainda a investigadora.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.