Sardinhas: Foto: Sofia Henriques

Plataforma diz que batalha pela sustentabilidade da sardinha ainda não está ganha

Até Julho deste ano, Portugal e Espanha podem pescar 10.000 toneladas de sardinha. O que acontecerá depois, só depende da recuperação dos stocks. Manter as mesmas 19.000 toneladas de 2015, só se não estiver em causa a sustentabilidade da espécie, alertam oito organizações na plataforma PONG-Pesca.

 

Esta é uma batalha marinha que a sardinha (Sardina pilchardus) ainda não ganhou. Contudo, os prognósticos são bons. “Há uma ligeira tendência de recuperação dos stocks de sardinha”, disse hoje à WILDER Gonçalo Carvalho, coordenador da PONG-Pesca e presidente da Sciaena – Associação de Ciências Marinhas e Cooperação.

Gonçalo Carvalho baseou-se em dados obtidos numa expedição científica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em Dezembro, para saber quanta sardinha há no mar. Os dados dessa campanha científica indicaram um “aumento da biomassa de sardinha e um aumento considerável do recrutamento”, segundo uma nota da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, divulgada na segunda-feira.

Portugal e Espanha incluíram esses números na negociação das quotas para 2016 com a Comissão Europeia. Acabaram por ser definidas 10.000 toneladas até Julho. Para o resto do ano ficou em cima da mesa a captura de, pelo menos, mais 4.000 toneladas, segundo uma abordagem precaucionária. “É expectável a revisão em alta dos níveis de captura, permitindo atingir as 19.000 toneladas até ao final do ano”, acrescenta a nota da Direcção-Geral.

Hoje, a PONG-Pesca, plataforma que participa como observador na Comissão de Acompanhamento da Sardinha, decidiu emitir um comunicado para aplaudir esta gestão responsável, que faz depender as quotas dos dados da monitorização científica que será feita aos stocks ao longo do ano, e para chamar a atenção de que, talvez, “as expectativas sejam demasiado elevadas”. “Tudo vai depender da resposta dos stocks de sardinha no mar. Em Julho será tomada uma decisão para os meses seguintes”, acrescentou.

As 10.000 toneladas até Julho é um limite de segurança “que permitirá manter a pescaria aberta durante a segunda metade do ano, caso não venha a comprovar-se a possibilidade de aumentar a quota total para as 19.000 toneladas do ano anterior”, explica, em comunicado, a PONG-Pesca.

“Todos desejamos que a sardinha recupere. No entanto, é importante não esquecer que o stock ainda está em níveis de abundância bastante reduzidos”, disse Gonçalo Carvalho.

Actualmente, a pesca à sardinha está suspensa, de Janeiro até ao final de Fevereiro. “Isto acontece todos os anos. É um defeso normal e uma medida de gestão que permite à sardinha fazer a desova e ter uma primeira fase de crescimento mais tranquila”, explicou o responsável.

Outras medidas de gestão para ajudar a espécie a recuperar podem passar pela definição de zonas onde é proibida a captura ou o abandono de artes de pesca especialmente nefastas.

 

[divider type=”thick”]Saiba como é a vida da sardinha

Segundo o IPMA, a sardinha reproduz-se ao longo da costa portuguesa de Outubro a Abril, sendo o pico entre Dezembro e Fevereiro. Cada fêmea produz uma emissão de ovos em média uma vez de duas em duas semanas ao longo da desova.

Os ovos flutuam nas camadas superficiais da coluna de água, ao sabor das correntes, durante três a cinco dias.

Depois, dos ovos eclodem pequenas larvas que se vão metamorfosear ao longo de 40 dias, até atingirem três a quatro centímetros de comprimento. A transição para adulto só acontece quando a sardinha tem um ano de idade e 14 centímetros de comprimento.

Uma sardinha pode viver até aos 14 anos e atingir 27 centímetros de comprimento. Estes peixes alimentam-se de plâncton, em especial microalgas, ovos de peixe e crustáceos.

Saiba mais sobre a sardinha aqui.

A PONG-Pesca é constituída por oito organizações:

  • Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação dos Elasmobrânquios (APECE)
  • Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA)
  • Liga para a Protecção da Natureza (LPN)
  • Observatório do Mar dos Açores (OMA)
  • Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus)
  • Associação de Ciências Marinhas e Cooperação (Sciaena)
  • Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)
  • WWF Portugal – World Wildlife Fund for Nature

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.