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Pangolim. Foto: Alfred Weidinger / Wiki Commons

Quatro espécies de pangolins passam a estar protegidas pelo Anexo I da CITES

Esta manhã, representantes de mais de 100 países reunidos em Joanesburgo apoiaram a transferência de quatro espécies de pangolins, as espécies asiáticas, do Anexo II para o Anexo I da convenção mundial contra o tráfico de espécies, a CITES. Esta tarde será tomada uma decisão sobre as restantes quatro espécies, as espécies africanas.

 

O pangolim, o mamífero mais traficado em todo o mundo, foi um dos temas em debate esta manhã no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo (África do Sul), pelos participantes da 17ª Conferência das Partes (COP) da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção), a decorrer de 24 de Setembro a 5 de Outubro.

Durante esta conferência, 180 países vão analisar 62 novas propostas de alteração à CITES ou aos seus anexos, que vão afectar mais de 500 espécies de animais e plantas. Várias horas serão ocupadas com discussões sobre elefantes africanos, rinocerontes brancos, leões, pumas, tubarões, mantas, águias de rapina, tartarugas, crocodilos, rãs, e muitos outros animais e plantas.

Apesar da procura, existem hoje 930 espécies de animais e plantas que não se podem comercializar, salvo condições excepcionais. São espécies do Anexo I da CITES e dele fazem parte o gorila, panda, jaguar, águia-imperial e várias orquídeas, por exemplo. Para outras 34.419, do Anexo II, o comércio já é possível mas de forma controlada, para que não tenham a mesma sorte. Ao todo, a CITES controla o comércio de mais de 35.000 espécies.

Esta manhã, estiveram em debate os pangolins. Mais de 100 países aprovaram três propostas para transferir do Anexo II para o Anexo I quatro espécies de pangolins asiáticos: Manis crassicaudata (pangolim-indiano), Manis culionensis (pangolim-das-Filipinas), Manis javanica (pangolim-de-sunda) e Manis pentadactyla (pangolim-chinês).

Os vários países mostraram-se preocupados com o elevado risco de extinção destes animais, ameaçados pela perda de habitat mas principalmente pelo comércio ilegal, especialmente para a China e Vietname. Em Junho foram apreendidas em Hong Kong quatro toneladas de escamas de pangolim, a bordo de um cargueiro dos Camarões.

Nestes países, a carne de pangolim é considerada uma iguaria e as suas escamas são usadas na medicina tradicional. Só na última década um milhão de pangolins terão sido tirados da natureza e traficados, estima o grupo de especialistas nesta espécie na Comissão para a Sobrevivência das Espécies da UICN (União Internacional de Conservação da Natureza). Isto equivale a um pangolim a cada cinco minutos.

Esta tarde será tomada uma decisão quanto às espécies africanas – Manis gigantea (pangolim-gigante), Manis temminckii (pangolim-sul-africano), Manis tetradactyla (pangolim-de-cauda-comprida) e Manis tricuspis (pangolim-de-ventre-branco).

Ao longo desta COP17 – a anterior aconteceu em Banguecoque em 2013 – 64 países vão apresentar novas propostas de alteração à CITES e aos seus anexos. O secretário-geral da CITES, John E. Scanlon, considerou esta COP como “um dos encontros mais importantes nos 43 anos da história da Convenção”. Estima-se que mais de 2.500 delegados participem na conferência. “As partes da convenção vão rever as acções tomadas nos últimos três anos e decidir o que precisa ser feito para acabar com o comércio ilegal de vida selvagem e evitar o comércio insustentável”, acrescentou Scanlon, em comunicado. Entre as questões mais complexas a debater está o comércio de marfim e os elefantes e os rinocerontes e os seus cornos.

A CITES foi assinada em Washington D.C. a 3 de Março de 1973 e entrou em vigor a 1 de Julho de 1975. Tem hoje 183 membros.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre a COP17 aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.