Foto: Helena Geraldes/Wilder

Quercus contesta regresso da caça à Reserva Natural da Malcata

Depois de mais de 20 anos voltou a ser possível caçar na Reserva Natural da Malcata, decisão contestada hoje pela Quercus. A organização lembra que já existem problemas de caça furtiva na região e teme os impactos neste habitat de lince, lobo, abutre-preto e outras espécies em recuperação.

 

Nesta segunda-feira, dia 8 de Fevereiro, foi publicada uma portaria que volta a autorizar a caça na Reserva Natural da Malcata, área protegida criada em 1981 nos concelhos de Penamacor e Sabugal.

Durante 22 anos, a caça esteve proibida naquela reserva, uma área superior a 16.000 hectares com plantas e animais “de incontestável interesse”, como o gato-bravo, a cegonha-preta ou o abutre-negro, segundo a portaria. É também habitat para o lince-ibérico.

Agora, a caça volta a ser autorizada, ainda que com limitações. Os planos de ordenamento e gestão cinegética, bem como os processos de renovação ou criação de novas zonas de caça necessitam de um parecer prévio do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

O Governo justifica esta alteração com “as reconhecidas vantagens do ordenamento cinegético e da gestão e exploração cinegéticas sustentáveis para a conservação dos recursos naturais, em particular através do fomento de espécies presa e maneio de habitat favorável às principais espécies protegidas”.

Mas ainda que a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, não esteja contra a caça, as vantagens por detrás da decisão na Malcata não são assim tão claras.

“A opção do Governo pode colocar em causa a recuperação de várias espécies presa que se encontram a recuperar na zona, como o corço, o veado ou o coelho, e ainda de espécies em perigo como o lince, o lobo ou o abutre-preto”, diz em comunicado divulgado hoje.

A Quercus recorda que a decisão “carece de qualquer fundamentação científica” e ainda que existem “graves lacunas de funcionamento” na Reserva Natural, por “falta de recursos humanos e financeiros, o que se reflete nas acções de vigilância e fiscalização realizadas”. Esta situação é tanto mais grave quando, segundo a Quercus, aquela área protegida “já enfrenta graves problemas de caça furtiva”.

Por tudo isto, a direcção nacional da organização adianta que vai pedir esclarecimentos ao Ministério do Ambiente e “tomar todas as medidas ao seu alcance para que a Reserva Natural da Serra da Malcata possa continuar a exercer o seu papel na conservação das espécies e habitats em perigo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.