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Foto: Helena Geraldes

Quercus lamenta prolongamento da licença para utilização de glifosato

A Quercus lamentou esta terça-feira o prolongamento da licença para o uso de glifosato, que foi aprovado pela Comissão Europeia para mais cinco anos.

 

A associação ambientalista lembra que o glifosato é o herbicida mais usado em Portugal e adianta que “não se surpreende” com a decisão europeia.

“A Quercus, a par de outras organizações não governamentais europeias, tem alertado para os perigos do glifosato que está classificado desde 2015, pela Agência internacional para a Investigação sobre o Cancro [da Organização Mundial de Saúde], como provável carcinogéneo para o ser humano”, sublinha, em comunicado.

“Infelizmente, o lobby da agricultura intensiva e industrial continua a ser mais forte”, considerou João Branco, presidente da Quercus. “O que é notório nesta votação, é que para a maioria dos países da UE são mais importantes os negócios do que o ambiente e a saúde das pessoas.”

Além das suspeitas quanto aos efeitos que tem sobre a saúde humana, o glifosato é fortemente criticado pelos ambientalistas, por considerar-se que reduz a biodiversidade ao atacar as plantas em geral. Dessa forma, contribui para o desaparecimento  dos habitats de muitos insectos e de outras espécies.

Na votação que se realizou na última segunda-feira, 18 países europeus votaram a favor do prolongamento da licença, como o Reino Unido, a Alemanha e a Polónia; outros 9 mostraram-se contra, entre os quais a França e a Bélgica. Houve uma única abstenção, da parte do Estado português, que defende a inexistência de provas científicas suficientes para uma conclusão.

Apesar do resultado final, em França, o Governo pretende banir este pesticida “logo que sejam encontradas alternativas, no máximo no prazo de três anos”, anunciou o Presidente Emmanuel Macron através do Twitter.

Em Portugal, o uso do glifosato e de outros herbicidas deixou de ser permitido em espaços públicos, desde Março deste ano, a não ser que se obtenha autorização da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária.

Este produto é um ingrediente-chave do herbicida da Monsanto Roundup, mas desde 2000, quando expirou a patente, é também fabricado e vendido por outros comercializantes.

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde concluiu que este químico poderá causar cancro. Mas a conclusão foi negada por outros estudos da Agência Europeia para a Segurança Alimentar e por organismos públicos de países como o Canadá e Japão.

No início do ano, mais de 100 organizações lançaram a Iniciativa Europeia de Cidadãos contra o glifosato. Hoje esta petição tem mais de um milhão de assinaturas. O objectivo é banir o glifosato do espaço europeu, reformar o processo de aprovação de pesticidas no âmbito da UE e assegurar metas obrigatórias para a redução destes produtos nos países comunitários.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.