Foto: Helena Geraldes/Wilder

Quercus teme que Peneda-Gerês esteja a perder a guerra contra acácias

Os carvalhais, bosques ripícolas, pinhais e lameiros do Parque Nacional da Peneda-Gerês estão a perder terreno para as acácias, árvores exóticas invasoras que hoje ocupam cerca de mil hectares daquela área protegida, alerta a Quercus.

 

O Parque Nacional da Peneda-Gerês – com 69.596 hectares distribuídos pelos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre – é uma das áreas protegidas portuguesas ameaçadas pelo avanço das acácias, árvores originárias do Sul da Austrália.

Por isso, a Quercus pediu ontem a “erradicação de novos focos de invasão e, acima de tudo, o controlo ou eliminação das populações de invasoras já estabelecidas”. Sugeriu, mais concretamente, o aumento do investimento financeiro neste combate, a aposta na sensibilização da sociedade e a criação de instrumentos legais para impedir a proliferação destas espécies.

A Quercus chama a atenção para duas espécies, a mimosa (Acacia dealbata) e a acácia-de-espigas (Acacia longifolia). A mimosa “ocupa já mais de 1.000 hectares no Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas esta área poderá ser muito maior, uma vez que não há medições actualizadas das áreas infestadas”, escreve a associação em comunicado divulgado ontem.

Estas árvores estão em flor nesta época do ano e sensivelmente até Maio. O amarelo das pequenas flores das acácias, que há muito deixaram de passar despercebidas, esconde os perigos desta espécie. Segundo a Quercus, estas árvores “produzem uma grande quantidade de material combustível, altamente inflamável, que se acumula no solo da floresta”, contribuindo para aumentar a frequência e intensidade dos incêndios.

Além disso, a acácia “aniquila as espécies autóctones, altera a fertilidade do solo e reduz a disponibilidade de água para outras plantas”.

A facilidade de expansão vem agravar o cenário. “Estas plantas invasoras deixam nos solos milhões de sementes por hectare e que se mantêm viáveis durante décadas e que estão prontas a germinar em qualquer altura, em especial após os incêndios”, lembra a Quercus.

“Lamentavelmente, as lindas florestas de folhosas à base de carvalhos estão a dar lugar a uma paisagem monótona e quase estéril dominada pelas mimosas.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

O projecto Invasoras.pt está desde Fevereiro a pedir a ajuda dos cidadãos para pôr as acácias num mapa de avistamentos. Em Portugal pode encontrar e registar várias espécies de acácias invasoras. As mais frequentes são as seguintes:

Mimosa (Acacia dealbata): Mede até 15 metros, com folhas perenes e verdes-acinzentadas e flores amarelo-vivas. Presente em todas as regiões de Portugal Continental e na ilha da Madeira.

Acácia-de-espigas (Acacia longifolia): Arbusto ou pequena árvore perene, com espigas amarelo-vivo e muito encontrada em dunas. Ocorre nas regiões de Trás-os-Montes, Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve e no arquipélago da Madeira (ilhas da Madeira e Porto Santo).

Acácia (Acacia saligna): Arbusto ou pequena árvore perene, de folhas verde-azulado e flores reunidas em “bolinhas” amarelo-dourado. Encontra-se na Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve), arquipélago dos Açores (ilha de São Miguel) e arquipélago da Madeira (ilha da Madeira).

Austrália (Acacia melanoxylon): Árvore perene, de folhas ligeiramente em forma de foice e flores reunidas em “bolinhas” amarelo-pálido. Encontra-se em todas as regiões de Portugal Continental e também no Açores (ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores) e Madeira (ilhas da Madeira e de Porto Santo).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.