Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Recapturado um dos dois linces de El Acebuche em falta após fogo

Três dias depois da evacuação do centro de reprodução do lince-ibérico de El Acebuche (Andaluzia), por ameaça do incêndio, está a faltar apenas um animal, depois da recaptura da fêmea Aura, de 13 anos.

 

Aura foi recapturada esta manhã perto do centro de visitantes de El Acebuche, no Parque Natural de Doñana e já está nas instalações do centro de reprodução em cativeiro onde vivia. Este lince “encontra-se em bom estado, mas a sua evolução será acompanhada de perto nos próximos dias”, informa hoje numa nota o programa de conservação Ex-Situ.

No domingo à tarde, perante a ameaça das chamas que se aproximavam do centro de El Acebuche, foi accionado o protocolo de evacuação estabelecido em caso de incêndio. “No tempo em que foi possível trabalhar antes de abandonar definitivamente o centro de reprodução foi possível retirar nove animais adultos (cinco machos e quatro fêmeas) e cinco crias”, explicou, na segunda-feira a equipa do centro. Entre estes animais, a fêmea Homer morreu, provavelmente devido ao stress sofrido durante a captura e o transporte.

Para trás ficaram 13 animais adultos por não ter havido mais tempo. Segundo o protocolo, as portas dos cercados foram deixadas abertas para puderem escapar no caso de o incêndio chegar às instalações.

Na segunda-feira, os animais retirados do centro foram devolvidos aos cercados. E dos 13 linces que tinham ficado, apenas dois estavam desaparecidos: Aura e Fran.

A estratégia de recaptura consistiu na colocação de várias jaulas armadilhadas e câmaras de foto-armadilhagem na envolvência de El Acebuche.

 

 

De momento, o único lince que ainda não regressou ao centro é Fran, um adulto “do qual já se encontraram vários vestígios”, avança a mesma nota. No terreno, para seguir e recapturar Fran, estão técnicos de El Acebuche mas também do Parque Nacional de Doñana e do projecto LIFE Iberlince.

O incêndio florestal que deflagrou na noite de sábado em Moguer (Huelva) foi dado como controlado na terça-feira, não sem antes ter afectado parte dos territórios onde vive uma população selvagem de lince-ibérico, com cerca de 70 animais, em Doñana. Miguel Ángel Simón, director do LIFE Iberlince, disse à Wilder na segunda-feira que as chamas afectaram “dois territórios de fêmeas territoriais e um terceiro em 30 a 40% da sua superfície”.

Por estes dias, há técnicos a percorrer a zona queimada para avaliar o que se perdeu e como isso poderá afectar os linces que ali vivem, bem como as suas presas, especialmente o coelho-bravo. Miguel Ángel Simón acrescentou que é preciso fazer uma avaliação no terreno, “já que num incêndio nem tudo arde e haverá zonas que arderam e zonas que são recuperáveis”.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

No total da Península Ibérica existem 483 linces-ibéricos na natureza. A maioria, 397, está nas populações da Andaluzia (Doñana-Aljarafe e Serra Morena: Guadalmellato, Guarrizas e Andújar-Cardeña). Além destes 397 animais, 19 vivem em Portugal, no Vale do Guadiana; 28 em Matachel (Badajoz), 23 em Montes Toledo (Toledo) e 16 na Serra Morena Oriental.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.