Saiba o que a desflorestação está a fazer à tartaruga-de-couro

A desflorestação de bosques tropicais prejudica gravemente a reprodução da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) e, provavelmente, de outras espécies de tartarugas marinhas, conclui um estudo internacional publicado hoje na revista Marine Ecology Progress Series.

 

Uma equipa de investigadores – coordenada pelo Conselho espanhol Superior de Investigações Científicas (CSIC), em colaboração com a Universidade britânica de Exeter – esteve nas praias da Colômbia a estudar as tartarugas-de-couro.

 

Tartaruga-de-couro. Foto: Bernard Dupont/Wiki Commons

 

Actualmente, esta espécie está classificada como Vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN). Isto por várias razões, desde o aumento das temperaturas, subida do nível do mar e erosão das praias à sobre-exploração dos ovos nas praias pelas comunidades locais.

Agora, soma-se mais uma ameaça. Estes investigadores descobriram que “o abate massivo de florestas tropicais gera grandes quantidades de resíduos de árvores cortadas, que são arrastados pelos rios até ao mar. Uma vez ali, o mar propaga-os e devolve-os às praias, aonde se depositam numa faixa que pode cobrir vários quilómetros”, explica Adolfo Marco, investigador do CSIC na Estação Biológica de Doñana (Andaluzia), em comunicado. “Este estudo mostra que esses resíduos orgânicos nas praias interferem na reprodução das tartarugas marinhas da pior maneira possível”, acrescenta.

“Infelizmente, as tartarugas continuam a fazer ninhos nessas praias cobertas de resíduos, mas fazem-no muito mais perto da costa para evitarem atravessar a faixa de lixo.”

Acontece que esses ninhos perto da água “têm um risco de inundação elevadíssimo, causando uma mortalidade de ovos devastadora”, acrescenta o investigador.

E, no caso dos poucos ninhos que são depositados para lá da barreira de lixo, as crias recém-nascidas têm de atravessar essa barreira para chegar ao mar. O estudo também mostra que essas crias têm graves problemas para atravessar a faixa. Muitas não conseguem, sendo predadas por caranguejos, aves ou mamíferos carnívoros. Outras conseguem mas com um esforço e gasto de energia muito elevados, que comprometerá a sua sobrevivência futura.

“Trata-se de uma ligação ecológica entre diferentes ecossistemas que, neste caso, provoca um dano muito importante em vertebrados marinhos protegidos e ameaçados de extinção”, diz, em comunicado.

Um exemplo da importância da tartaruga-de-couro nos ecossistemas marinhos é o seu consumo especializado em medusas tóxicas, actuando como um controlo biológico muito eficaz. O desaparecimento destas tartarugas poderia ter efeitos devastadores no impacto de proliferações massivas de medusas tóxicas, acredita Marco.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.