São Bento recebe proposta para bordear estradas com carvalhos e sobreiros

Criar corredores de carvalhos, nogueiras, sobreiros ou cerejeiras nas bermas das estradas de Norte a Sul do país, para ajudar a travar os incêndios, é uma das 12 medidas apresentadas hoje por duas associações na Assembleia da República.

 

“Estas são ideias que já tínhamos há algum tempo. Mas o incêndio de Pedrógão Grande foi o catalisador para que as reuníssemos num documento para apresentar na Assembleia da República”, explicou hoje à Wilder João Branco, engenheiro florestal e presidente da direcção nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, reeleito em Março passado.

Esta tarde, a Quercus e a Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal vão apresentar ao Grupo de Trabalho para a Reforma da Floresta, no âmbito da Comissão da Agricultura e Mar, 12 medidas de política florestal para ajudar a resolver o problema dos incêndios.

Para as associações, estas medidas são “prioritárias”, “face aos mais recentes acontecimentos, ocorridos no distrito de Leiria, com a perda de vidas humanas, mas também ao histórico dos incêndios rurais em Portugal, ao longo das últimas décadas”, segundo um comunicado conjunto divulgado ontem.

Uma das medidas é a obrigatoriedade de plantação de folhosas de baixa combustibilidade ao longo da rede viária municipal e nacional. A ideia é plantar estas árvores numa faixa de 20 metros para cada lado a contar da berma da estrada, extensível a 50 metros no caso das autoestradas, itinerários principais e vias rápidas. “Esta é uma medida a aplicar por todo o país, sendo depois preciso escolher as espécies mais adaptadas a cada região”, explicou João Branco. Entre as árvores em vista estão várias espécies de carvalhos – como o carvalho-alvarinho e o carvalho-cerquinho -, a nogueira, a cerejeira, o sobreiro e a azinheira. “Estas são espécies folhosas que têm um baixo grau de combustibilidade e que retêm humidade”, notou, salientando que além da plantação será preciso manter aquelas faixas limpas.

João Branco salientou ainda a medida do emparcelamento florestal como uma das mais importantes. As duas associações propõem a obrigatoriedade do emparcelamento florestal, promovido pela Administração Central, em freguesias com propriedade rústicas com área média inferior a 10 hectares em mais de 25% do seu território. O emparcelamento poderá ser acompanhado de incentivos à instalação de outras culturas florestais, para madeira ou fruto, que não o eucalipto.

Entre as 12 medidas está ainda a obrigação do licenciamento (autorização prévia) para todas as arborizações e rearborizações, tornando obrigatório que 20 % da área seja ocupado com folhosas, e a responsabilização criminal de quem venha a desenvolver ações de (re)arborização sem licenciamento, em especial no caso de espécies de rápido crescimento.

As duas associações defendem também a proibição total de novas áreas com plantações de espécies de rápido crescimento, em particular de eucalipto.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui as 12 medidas a apresentar na Assembleia da República.

[divider type=”thick”]Que soluções para a floresta portuguesa?

O período crítico para os incêndios em Portugal já começou. Por isso, decidimos lançar uma nova série Wilder, “Que soluções para a floresta portuguesa?”. Vamos falar com várias pessoas ligadas às florestas e também queremos saber a sua opinião. Pode enviar as suas ideias sobre o futuro da conservação da nossa floresta para o email [email protected]. O que é necessário fazer? Como gostaria que fosse a floresta portuguesa?

E para se inspirar, releia a série Cuidadores de Florestas, onde lhe mostramos os portugueses que estão a cuidar das florestas ao longo de todo o ano. Conte-nos o que está a fazer para ajudar as árvores de Portugal ([email protected]).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.