Seis ONGA portuguesas pedem proibição da caça à rola-brava

A rola-brava (Streptopelia turtur), outrora uma ave comum nos campos agrícolas e nas florestas, faz parte da Lista Vermelha das Aves da Europa e pode mesmo desaparecer. Esta semana, seis organizações portuguesas juntaram-se para pedir ao Governo a proibição da caça a esta espécie já em 2016.

 

Esta ave migradora viu a sua população europeia diminuir mais de 70% nos últimos 20 anos. Esta redução já chamou a atenção das autoridades de conservação da natureza mundiais que, em Novembro do ano passado, a incluíram na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), com estatuto de Vulnerável.

A rola-brava “está a desaparecer a um ritmo galopante em Portugal e na Europa”, escrevem nesta terça-feira, em comunicado, seis organizações portuguesas. As populações desta espécie em Portugal estão em decréscimo acentuado, pelo menos, desde 2004, de acordo com o Censo das Aves Comuns, feito pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

Nesta terça-feira, a Coligação C6 – que inclui o GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, Spea e WWF Portugal – apelou aos ministros da Agricultura e do Ambiente “que proíbam, com carácter de urgência, a caça à rola-brava, de modo a prevenir a extinção desta magnífica espécie”.

A abertura da caça à rola acontece ainda durante o mês de Agosto, altura em que “é provável a existência de muitas rolas em nidificação ainda com crias no ninho e, pontualmente, ovos de posturas tardias ou segundas posturas”, salienta a coligação.

Os conservacionistas lembram ainda que os incêndios florestais poderão ter causado “uma quebra ainda maior nas já debilitadas populações selvagens” da espécie.

A situação da caça à rola-brava não é novidade. “Todos os anos as associações ambientalistas e algumas organizações do sector cinegético têm alertado publicamente os responsáveis políticos para o problema”, escrevem, lamentando a “irresponsabilidade e insensibilidade (…) de sucessivos Governos”.

Na verdade, em Abril do ano passado, quatro das seis associações pediram uma suspensão temporária à rola-brava.

O problema da rola-brava também está identificado no país vizinho. Actualmente, a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO) considera que a rola-brava é uma “raridade em algumas zonas de Espanha”.

“Não podemos esquecer o triste destino do pombo-viajante americano que foi considerada a ave mais abundante do mundo e cujo último exemplar morreu num jardim zoológico em 1914″, escreve a coligação C6. “A extinção é para sempre.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.