tronco de uma árvore com musgo
Foto: Wilder/arquivo

Será que olivais com mochos e coelhos podem ser rentáveis?

Os olivais onde vivem mochos, coelhos-bravos, lebres ou perdizes e tapados de flores silvestres podem ser rentáveis por isso mesmo. Um novo projecto com financiamento europeu está a começar na Andaluzia para mostrar como será possível.

 

O projecto LIFE+ Olivais Vivos, co-financiado pela Comissão Europeia e coordenado pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) inicia agora os seus cinco anos de trabalho em 20 olivais demonstrativos na Andaluzia.

O objectivo é recuperar a biodiversidade perdida do olival para aumentar a sua rentabilidade. Olivais com mochos de novo, portanto.

A SEO, Universidade de Jaén, Diputación de Jaén e a Estación Experimental de Zonas Áridas (EEZA-CSIC) desenharão nos próximos cinco anos um modelo de olivicultura, que incluirá acções de recuperação da biodiversidade, mecanismos de certificação que avaliem esse valor acrescentado nos azeites e a criação da marca de garantia Olivais Vivos.

“Nos últimos anos, o sector do olival avançou muito na promoção da qualidade do azeite e nas suas propriedades excepcionais para a saúde. No entanto, só agora estamos a começar o caminho para tirar partido do seu potencial ambiental”, diz José Engenio Gutiérrez, da SEO na Andaluzia e coordenador do projecto. “Não estamos a aproveitar o facto de que o olival é o cultivo mais importante para a conservação da biodiversidade na Europa.”

Segundo os dados reunidos pela SEO, desde o início dos anos 90 têm-se registado declínios enormes na população de aves associadas ao olival. Esse é o caso do verdilhão (Chloris chloris), chamariz (Serinus serinus) e pintassilgo (Carduelis carduelis), com declínios de até 80%. E o rouxinol-do-mato (Cercotrichas galactotes) tem-se extinguido em algumas regiões. “Boa parte da vida que os olivais tiveram já se perdeu”, comenta Pedro Rey, da Universidade de Jaén. “Mas não será difícil recuperar a biodiversidade na maioria deles.” A oliveira, espécie nativa, tem já uma história milenar de relações ecológicas com as espécies de flora e fauna do Mediterrâneo, o que facilita a recuperação destas zonas.

“Acredito que todos nós, agricultores, gostaríamos de que os nossos campos tivessem mais vida”, diz Manolo Arzona, um olivicultor de Torredonjimeno interessado no projecto. “Talvez tenhamos utilizado uma agricultura demasiado agressiva. Se o modelo de olival que se propõe não aumenta muito os custos de produção e a marca pode ajudar na rentabilidade, ficarei muito satisfeito em ter mais vida no meu olival.”

A marca Olivais Vivos será avaliada cientificamente e a rentabilidade será assegurada por uma estratégia comercial adequada, segundo o projecto. “De nada servirá uma marca de garantia de biodiversidade se não estiver acreditada cientificamente”, diz Francisco Valera, do EEZA-CSIC. “E também de nada servirá se os consumidores não conhecerem bem o que está por detrás da marca”, acrescenta Eva Murgado, especialista em Marketing e Mercados de Azeite na Universidade de Jaén.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.