grande plano de águia perdigueira de perfil
Águia-de-Bonelli. Foto: T. R. Shankar Raman/Wiki Commons

Sete curiosidades sobre a Ave do Ano 2018 para Portugal

A águia-perdigueira (Aquila fasciata), também conhecida por águia-de-Bonelli, foi escolhida como a Ave do Ano 2018 pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). A escolha da águia-perdigueira como Ave do Ano “pretende sensibilizar para as ameaças que a espécie enfrenta e para a sua importância no equilíbrio dos ecossistemas, como predador de topo na cadeia alimentar”, explicaram à Wilder Joaquim Teodósio e Rita Ferreira, ambos da SPEA.

Com a ajuda de Joaquim Teodósio, coordenador do projecto LIFE Rupis, e de Rita Ferreira, do Grupo de Trabalho em Águia-de-Bonelli, fique a conhecer sete factos sobre a águia-perdigueira:

 

1. Esta ave é uma das espécies-alvo do LIFE Rupis (2015-2019), um projecto com apoios comunitários, coordenado pela SPEA e realizado no Douro Internacional, na região do Nordeste Transmontano.  Pode encontrar-se também nas serras do Sudoeste, de Grândola ao Caldeirão, e ainda nas planícies do Baixo Guadiana, mas também nas regiões da Estremadura e nas Beiras Interiores.

2. Deve o nome de perdigueira ao facto de caçar outras aves em pleno voo, desde perdizes a pombos, para se alimentar. Os pombos domésticos são aliás responsáveis por uma das ameaças à conservação da espécie, uma vez que lhe transmitem a tricomaníase, uma doença mortal. Come também mamíferos de pequeno porte, como coelhos, e ainda répteis, mas estes últimos com menos frequência.

3. A águia-perdigueira é uma ave de rapina de grande porte. Os adultos distinguem-se pelo corpo claro, pelas asas escuras e pela mancha branca no dorso, que é uma característica única desta espécie; os juvenis têm uma plumagem muito distinta dos adultos, maioritariamente arruivada. É uma espécie residente e por isso os adultos podem ser observados durante todo o ano nos seus territórios; os juvenis são mais facilmente observáveis nas suas áreas de dispersão. O Estuário do Tejo é um local que oferece boas observações desta ave durante o ano todo, pois é uma área de alimentação importante para adultos e juvenis.

 

águia-perdigueira, de frente
Foto: Paco Gómez/Wiki Commons

 

4. Em território português, está Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). Todavia, há sinais de que “a população portuguesa está a aumentar em número e em área de distribuição, o que está associado maioritariamente à evolução positiva dos casais arborícolas, que utilizam árvores para fazer os seus ninhos, no Sul do país”, adianta a SPEA. A última estimativa nacional é de 2011 e aponta para um total de 116 a 123 casais, “mas actualmente estará subestimada.”

5. Uma característica curiosa da águia-perdigueira: a sul do Tejo, como é o caso das planícies alentejanas, faz quase sempre os ninhos em árvores, sobretudo em grandes sobreiros, eucaliptos e várias espécies de pinheiros. Isto acontece noutros países mediterrânicos, como o Chipre e a Tunísia, mas em Espanha – que concentra 60% da população europeia – é muito pouco habitual. Em Portugal, “o rápido crescimento da população arborícola nacional é aparentemente único.”

6. A época de reprodução sucede de Dezembro a Junho. Em meados de Março começam a nascer as crias, em geral uma ou duas por cada ninho. Estas aves são monogâmicas e ambas cuidam das ninhadas. Em geral, cada casal possui vários ninhos, que utilizam de forma alternada. Mais a norte, as águias-perdigueiras costumam nidificar em escarpas, nos vales de grandes rios como o Tejo e o Douro.

 

duas águias no ninho
Foto: Lalo Ventoso/Wiki Commons

 

7. As maiores ameaças para esta espécie são três: o desaparecimento do seu habitat devido às mudanças no uso dos solos, que no Nordeste Transmontano leva à diminuição das presas e mais a sul traduz-se no corte de grandes árvores, provocando o desaparecimento dos locais para os ninhos; a perturbação na época de reprodução, de Dezembro a Junho, “pois esta espécie é particularmente sensível à presença humana em redor dos ninhos durante esta fase crítica”; a electrocussão em linhas eléctricas de média e alta tensão, que afecta tanto os adultos como as águias-perdigueiras jovens.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Em Portugal, a águia-perdigueira é uma das espécies-alvo do projecto LIFE Rupis (2015-2019), que trabalha com esta espécie na bacia do Douro Internacional através de várias iniciativas, incluindo a recuperação de pombais tradicionais, o fornecimento de alimento suplementar a casais reprodutores e a correcção de linhas eléctricas para reduzir os riscos de morte por electrocussão.

Já o Grupo de Trabalho em Águia-de-Bonelli (GTAB) trabalha para a protecção dos casais reprodutores desta espécie na região Oeste (numa paisagem altamente humanizada) e no Alentejo Central. Nestas áreas, o GTAB faz um seguimento regular dos casais. Procura também reduzir as ameaças à espécie, através de acções de formação e sensibilização, “sendo que estas acções se estendem a qualquer área do país sempre que é identificada uma ameaça e a necessidade de intervenção”.

O GTAB, que foi formado em 2011, faz também o seguimento de outras aves de rapina florestais, como o açor, que tem estatuto de conservação Vulnerável em Portugal. A águia-calçada e a águia d’asa redonda são outras espécies seguidas.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.