tronco de sobreiro
Foto: Helena Geraldes

Sobreiro é aliado de peso na luta contra alterações climáticas

Em Novembro, as florestas já tinham sido reconhecidas como uma solução climática crucial por chefes de Estado e ministros de 16 países. Hoje, investigadores portugueses revelam que por cada tonelada de cortiça produzida, o montado sequestra 73 toneladas de CO2 que deixam de ir para a atmosfera.

 

Durante os últimos sete anos, os sobreiros de uma herdade em Coruche, no distrito de Santarém, estiveram debaixo de olho dos investigadores do Instituto Superior de Agronomia (ISA). A pergunta era: qual é a pegada de carbono do sector da cortiça em Portugal, ou seja, quanto dióxido de carbono é emitido para fabricar este produto?

Nada foi deixado ao acaso. Ao longo desses sete anos os cientistas estiveram na Herdade da Machuqueira do Grou a registar quanto dióxido de carbono (CO2) o montado conseguia retirar da atmosfera – incluindo em média 177 sobreiros por hectare, mais o solo e a vegetação própria do ecossistema. Depois estimaram qual a quantidade de gases com efeito de estufa emitida pelo sector nacional da cortiça, incluindo o fabrico dos produtos.

Os investigadores, coordenados pela Universidade de Aveiro, concluíram que esta é uma actividade com um saldo “extremamente positivo” para o Ambiente e que a indústria da cortiça ajuda a atenuar as alterações climáticas, segundo um comunicado daquela Universidade.

“Por cada tonelada de cortiça produzida, o montado sequestra mais de 73 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente às emissões daquele gás libertadas para percorrer cerca de 450 mil quilómetros de automóvel”, acrescentam.

A produção de cortiça “é um sumidouro efetivo de gases com efeito de estufa uma vez que o sequestro de dióxido de carbono da atmosfera é bastante superior às emissões desses gases emitidos ao longo do setor, desde a floresta até ao destino final dos produtos de cortiça”, garante, em comunicado, Ana Cláudia Dias, investigadora do Departamento de Ambiente e Ordenamento e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA e coordenadora do estudo.

 

A investigadora Ana Cláudia Dias com uma pen drive revestida de cortiça. Foto: Universidade de Aveiro
A investigadora Ana Cláudia Dias com uma pen drive revestida de cortiça. Foto: Universidade de Aveiro

O segredo está na capacidade da cortiça em reter o carbono absorvido durante o crescimento do sobreiro. “Por cada tonelada de cortiça, duas de dióxido de carbono são sequestradas da atmosfera.”

A investigadora salienta ainda que “a utilização de produtos de cortiça contribui para a mitigação das alterações climáticas, quer pela sua capacidade de acumular carbono quer pelo facto de substituírem produtos alternativos mais intensivos do ponto de vista energético”.

O projeto desenvolveu um modelo de cálculo que permite que os produtos de cortiça passem a ser incluídos nos inventários nacionais de gases com efeito de estufa, tal como já sucede com os produtos de madeira.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Segundo o 6º Inventário Florestal Nacional, em 2010 a floresta ocupava 35,4% do território continental, principalmente eucalipto (812 mil hectares) e depois sobreiro (737 mil hectares). A área de sobreiro manteve-se estável entre 1995 e 2010.

O papel das florestas é reconhecido no Programa Nacional para as Alterações Climáticas (2020-2030), documento publicado em Maio de 2015. Nele estão previstas acções para aumentar a resistência e resiliência das florestas aos fogos e agentes bióticos e ainda para aumentar a área florestal e melhorar a já existente, como por exemplo, apoiando a “conservação e recuperação de habitats e zonas florestais de grande valor natural”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.