Tentilhões azuis conseguem recuperar de incêndio devastador

Depois do devastador incêndio de 2007 apenas restaram 200 tentilhões-azuis nas Canárias. Hoje, a população desta ave endémica conseguiu aumentar, revela um investigador espanhol.

 

O tentilhão-azul (Fringilla polatzeki) é uma ave endémica de Pinar de Inagua, na Gran Canária. Os incêndios de 2007 reduziram a população a apenas 200 indivíduos em cerca de 30 quilómetros quadrados. Esta era a única área de distribuição conhecida para a espécie.

Mas, passada uma década, Luis M. Carrascal, investigador do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), descobriu que a espécie conseguiu recuperar e, mais que isso, aumentar a população.

Num artigo publicado recentemente na revista Animal Biodiversity and Conservation, e noutro publicado na revista PeerJ, este investigador e Ángel Moreno (do Governo das Canárias) e Alejandro Delgado (consultor ambiental) descrevem as condições ideais para a sobrevivência desta espécie, “informação útil que permitirá encontrar novas áreas para a sua reintrodução”, escreve o Museu em comunicado divulgado a 7 de Novembro.

A monitorização das populações de tentilhões-azuis começou em 1994, ano em que Pinar de Inagua foi declarada Reserva Natural Integral. Esta é uma pequena ave das florestas e é um endemismo da Gran Canária. Apenas ocorre na região de Pinar de Inagua-Ojeda-Pajonales.

“A densidade reprodutiva do tentilhão-azul manteve-se estável em Inagua desde 1994 até antes do incêndio, altura em que a sua população caiu para metade”, explica Luis M. Carrascal.

Desde 2008, a população foi aumentando gradualmente até chegar à maior densidade registada até agora, com um aumento de 24%, aproximadamente 16 aves por quilómetro quadrado, em 2016.

“Com excepção do ano anterior ao incêndio, a média de indivíduos manteve-se relativamente estável entre nove e 16 aves por quilómetro quadrado. Esta é a menor abundância e a menor dimensão conhecidas para uma população de uma pequena ave florestal em todo o Paleártico Ocidental”, acrescentou.

Para este investigador, “o estudo demonstra que estas pequenas aves têm uma enorme resistência face a eventos catastróficos”. “Se bem que a criação da reserva integral de Inagua não tenha promovido um aumento generalizado da população, nem a tenha protegido de uma crise demográfica, é mais que provável que tenha evitado uma redução maior das suas populações ao longo dos últimos 25 anos”, acrescentou.

 

Procuram-se novas áreas para repovoar

O Pinar de Inagua é um dos pinhais autóctones mais bem conservados da Gran Canária. Com mais de 30 quilómetros quadrados, estende-se pela zona central da ilha e alberga vários pinheiros da espécie Pinus canariensis, a uma altitude que varia entre os 1.000 e os 1.600 metros.

Além de contabilizar e estudar a população de tentilhões-azuis, os investigadores analisaram as condições orográficas, climáticas e de habitat que estas aves precisam para se reproduzirem com êxito. Ou seja, pinhais com árvores com mais de 15 ou 20 metros de altura, não muito densos (entre 25 a 50% de cobertura arborizada), situados acima dos 1.100 metros de altitude e onde chova entre 13 e 24 litros por metro quadrado durante o Verão.

“Compreender as limitações espaciais das espécies com áreas de distribuição tão reduzidas pode ajudar a encontrar espaços adequados para desenvolver programas de reintrodução”, acrescentou Carrascal.

Ao modelizar o padrão de distribuição da espécie em Inagua, os autores predizem até que ponto outros pinhais históricos da Gran Canária são adequados para a reprodução do tentilhão-azul. Entre eles, os investigadores destacam o Pinar de Tamadaba, onde a espécie já ocorreu no passado.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.