Três perguntas a Javier Calzada, assessor na reclassificação do lince-ibérico

Este professor de Zoologia na Universidade de Huelva, e que trabalha com lince-ibérico há 20 anos, foi um dos dois assessores no processo de alteração da categoria do Lynx pardinus na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A Wilder fez-lhe três perguntas.

 

Wilder: Por que passou o lince-ibérico para a categoria “Em Perigo”?

Javier Calzada: O lince-ibérico foi reclassificado de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo” porque deixou de cumprir os requisitos quantitativos para estar na categoria “Criticamente em Perigo” e cumpre os critérios para estar “Em Perigo”. Este processo não foi uma decisão, mas sim uma análise quantitativa da situação.

W: O que significa esta reclassificação para a espécie?

Javier Calzada: Na verdade não é muito importante para a espécie. É importante para as pessoas. Para nós, enquanto sociedade, deve servir para nos darmos conta de que os esforços investidos na conservação têm sido úteis e que devemos mantê-los. Esta é uma boa notícia, mas supõe um desafio porque o lince continua a estar numa situação muito difícil. Continua a ser o felino mais ameaçado do mundo. Se pararmos de nos esforçarmos para o conservar, a situação muito rapidamente se reverteria.

W: Neste momento, quais as maiores dificuldades de conservação para o lince?

Javier Calzada: Algumas, as mais imediatas, não mudaram muito nos últimos 50 anos: a falta de habitat adequado para manter populações silvestres viáveis; os problemas de conservação da sua principal presa, o coelho-bravo; e a mortalidade por causas não naturais, como atropelamentos e caça furtiva. Também é preciso ter em conta as novas ameaças, como por exemplo as alterações que se avizinham na distribuição e extensão do matagal mediterrânico devido às alterações climáticas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.