Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

Tribunal trava extinção de reserva natural na Amazónia

Um tribunal federal brasileiro suspendeu ontem o decreto assinado pelo Presidente Michel Temer que extinguia uma reserva natural na Amazónia do tamanho da Dinamarca, para permitir a exploração comercial.

 

Há uma semana, a 23 de Agosto, Michel Temer assinou um decreto que extinguia a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), área protegida entre o Pará e o Amapá criada em 1984.

As reações não se fizeram esperar. Em poucos dias, cerca de 735 mil pessoas assinaram o abaixo-assinado “Impeça que a Amazônia vire um deserto”, na plataforma da organização Avaaz, e no fim-de-semana passado, milhares de pessoas protestaram nas ruas de várias cidades brasileiras.

“O Congresso quer aprovar uma lei que vai abrir um buraco do tamanho de 433 campos de futebol no coração da Amazónia para mineração, madeireiras e pecuária”, pode ler-se no texto do abaixo-assinado.

Uma acção popular chegou aos tribunais, questionando o decreto de Temer sobre a extinção da reserva. O pedido argumenta que a medida não teve autorização do Congresso, não explicava “os reais propósitos” do Executivo e colocaria em risco a proteção do ambiente e das comunidades indígenas.

Agora, o juiz Rolando Spanholo, da 21ª Vara Federal de Brasília, bloqueou a decisão de Temer e decretou a sua suspensão. Para o magistrado, “não merece guarida a versão administrativa de que a extinção perpetrada da Renca não estaria sujeita aos ditames das regras que norteiam o nosso sistema de protecção ambiental”, citava ontem o jornal brasileiro O Globo.

Tanto mais que a decisão de extinguir a reserva natural é ilegal, já que isso só poderia acontecer através de uma alteração legislativa “que jamais foi editada pelo Congresso Nacional”, escreveu o juiz.

Já em Junho, o Ministério do Ambiente brasileiro tinha emitido um parecer, ao qual o jornal O Globo teve acesso, onde alertava para o “possível aumento do desmatamento” naquela região da Amazónia. Segundo o documento, em 2016 havia 646 pedidos de exploração dentro da Renca. Desses, 41 estão em terras indígenas e outros 600 estariam dentro de unidades de conservação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.