lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

UICN vai criar novos indicadores para medir sucessos de conservação

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) está a preparar um novo método para medir com eficácia o sucesso de programas de conservação de espécies, anunciou a organização.

 

“A UICN reconhece a necessidade de se estabelecerem objectivos ambiciosos para a conservação da biodiversidade e para se provar que [o trabalho de]  conservação funciona”, sublinhou o responsável máximo pela Unidade da Lista Vermelha, Craig Hilton-Taylor, esta segunda-feira.

Craig Hilton-Taylor, que é também co-autor de um artigo sobre a nova metodologia, publicado na revista científica Conservation Biology, indicou ainda que “o novo enquadramento destaca uma mudança ambiciosa no pensamento da conservação para a necessidade de assegurarmos a recuperação de espécies, em vez de evitarmos apenas a sua extinção”.

Um dos novos estatutos deverá ser o de espécie “totalmente recuperada”, definida como uma espécie viável e que cumpre os seus papéis ecológicos nos ecossistemas da sua área natural de distribuição.

O novo método não vai substituir a Lista Vermelha de espécies, mas sim complementá-la, demonstrando o sucesso real de projectos de conservação, adianta a UICN.

Em causa vão estar quatro critérios principais, para cada espécie: os impactos da conservação no passado; o que aconteceria se as medidas de conservação actuais cessassem; ganhos esperados da acção de conservação; quão próxima de uma espécie ‘totalmente recuperada’ pode ficar uma espécie com acções de conservação efectivas.

 

um saiga deitado num relvado
Saiga no deserto de Gobi, Mongália. Foto: Tiarescott/Wiki Commons

 

Um exemplo avançado pela UICN: o saiga, um antílope considerado Criticamente em Perigo de extinção, mantém esse estatuto desde 2002. Todavia, no novo enquadramento, pode-se provar que “os esforços já realizados de conservação têm ajudado a espécie a recuperar e que o saiga depende de  futuras acções de conservação para a sua sobrevivência”.

O arranque deste novo modelo de avaliação de espécies está previsto para 2020, dentro de dois anos.

 

Lista Verde avança em mais países

Terminada a fase piloto da Lista Verde da UICN, que quer assinalar por todo o mundo zonas onde a protecção da biodiversidade está a ter sucesso, a organização vai agora avançar em força com o projecto, anunciou o The Guardian.

A Lista Verde pretende destacar áreas protegidas e de conservação que tenham sucesso no cumprimento dos seus objectivos, como exemplo para outros projectos semelhantes, como foi o caso de Doñana, em Espanha.

Nos últimos anos, foram reconhecidas 22 áreas no total, incluindo a Serra Nevada, também em Espanha, e os Pirinéus, em França.

Em causa está dar resposta a um dilema enfrentado pelos conservacionistas: a área de áreas protegidas a nível terrestre e marinho tem vindo a crescer, mas pouco se sabe sobre o sucesso efectivo desses projectos para a protecção da biodoversidade local.

Os critérios que estão em cima da mesa para a entrada de novos sítios na Lista Verde pretendem ajudar a perceber até que ponto as medidas de protecção anunciadas estão a ser seguidas, em locais formalmente protegidos, explicou ao The Guardian o responsável máximo da Lista Verde, Marc Hockings, da Universidade de Queensland, Austrália.

O projecto está em fase de levantamento das áreas protegidas que vão ser reconhecidas. Em causa estão quatro critérios principais: boa governação, ‘design’, gestão efectiva e resultados na área da conservação.

Em cada país prevê-se que uma equipa de especialistas analise as áreas protegidas que pretendem entrar na lista.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Leia aqui o comunicado da União Internacional para a Conservação da Natureza, sobre o novo método de avaliação da conservação de espécies.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.