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Um ano com uma família de ginetas

Numa pequena floresta autóctone às portas de Coimbra vive uma família de ginetas. Durante um ano, o estudante de Biologia e fotógrafo de natureza Manuel Malva acompanhou estes ágeis carnívoros.

 

A gineta (Genetta genetta) é um dos mamíferos carnívoros mais abundantes de Portugal. Tem o focinho esguio, cauda comprida com anéis negros e pelagem cinzenta com manchas escuras. Pode pesar três quilos e chegar aos 90 centímetros de comprimento, já com a cauda.

 

 

É famosa pela sua agilidade, sendo uma exímia trepadora. Mas não é dos animais mais fáceis de observar.

Ainda assim, uma família de ginetas foi acompanhada durante um ano por Manuel Malva, 22 anos e estudante de Biologia na Universidade de Coimbra. Fotografa a natureza desde os sete anos, “incentivado pelos meus pais e avós, que sempre tiveram também uma ligação ao campo e elevada sensibilidade para com os animais e a natureza”.

 

 

Este projecto de fotografia naturalista começou quando Manuel Malva adquiriu uma trapcam. “Comecei então a explorar a atividade de mamíferos nas florestas em redor da minha casa”, numa pequena floresta autóctone rodeada por estradas e habitações, contou à Wilder. “As ginetas foram dos primeiros animais a aparecer.” E foi uma “grande surpresa”, reconheceu. “Nem desconfiava que existiam ginetas ali tão perto.”

 

 

O retrato destes animais resultou de 365 noites de fotoarmadilhagem e foi apresentado no ano passado no Ambiente Imagens Dispersas  – 13º Encontro de Fotografia Cidade de Ovar.

Praticamente todos os dias, Manuel Malva visitava o local para “fazer ajustes e manutenção do material”. “Todas as imagens resultam primeiro de um trabalho de monitorização através de trapcam, dando posteriormente lugar ao equipamento de armadilhagem fotográfica com sensor de movimento, dslr e flash, que permitiu obter todas as imagens finais”, acrescentou.

 

 

Os protagonistas desta história são dois casais de ginetas, observados a partir de um único local daquela floresta de carvalhos, loureiros e medronheiros nos arredores da cidade de Coimbra.

Apesar de ser um animal predominantemente noturno, Manuel Malva também conseguiu registar a sua  atividade em pleno dia.

 

 

“Ao fazer este trabalho metódico e prolongado fui-me apercebendo de algumas particularidades do comportamento das ginetas”, contou Manuel Malva. Este naturalista salienta a extremamente desenvolvida capacidade trepadora destes animais. “Movimentam-se com grande agilidade pelas copas, o que facilita bastante a sua deslocação em zonas de sub-bosque muito denso.”

 

 

Além disso ficou a saber mais sobre estes carnívoros. “A sua dieta é composta por carne durante a maior parte do ano, mas no Outono consomem bastante fruta, figos em particular.”

E no Verão, uma das fêmeas teve dois filhotes, algo que não passou despercebido neste trabalho.

 

 

“A maior surpresa que tive ao acompanhar esta espécie foi ter-me apercebido de que frequentam a proximidade das casas na calada da noite, tendo verificado a sua presença no jardim e pátio de minha casa”, contou. “Os seus hábitos extremamente furtivos e discretos fazem aparentar ser uma espécie ausente ou muito rara, mas na zona onde fotografo regularmente constatei ser o mesocarnívoro mais comum e bem distribuído.”

 

 

A par do curso de Biologia na Universidade de Coimbra, Manuel Malva não descura o conhecimento e a descoberta do mundo natural. “Um dos meus próximos projetos tem a ver com a problemática do atropelamento de animais selvagens, em particular os mesocarnívoros, nos quais se inclui a gineta”, adiantou. Um trabalho que estará concluído em breve.

 

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça melhor o trabalho de Manuel Malva aqui.

Saiba mais sobre os mamíferos do nosso país através do Atlas dos Mamíferos de Portugal e descubra como pode ajudar a completá-lo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.