Um ano depois da mortandade, o que aconteceu ao antílope saiga?

Cerca de 200.000 antílopes saiga morreram nas estepes do Cazaquistão em apenas duas semanas na Primavera de 2015. Um ano depois, um censo revela que esta espécie Criticamente em Perigo de extinção está a conseguir recuperar.

 

Em Maio de 2015, o mundo conservacionista foi abalado pela morte súbita e sem precedentes de cerca de 200.000 antílopes saiga (Saiga tatarica), espécie classificada como Criticamente em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN).

A população de Betpak-Dala, no Centro do Cazaquistão, perdeu 90% dos seus animais, o que equivale a mais de 60% da população global, deixando a espécie numa situação crítica.

Meses depois, cientistas chegaram à conclusão que as mortes tinham sido causadas por uma bactéria. Ainda assim, a investigação à mortandade de 2015 não terminou e os investigadores continuam a tentar perceber melhor o que aconteceu ao certo.

Este ano, de 18 de Abril a 3 de Maio, uma equipa de investigadores e conservacionistas – entre os quais peritos da Sociedade Zoológica de Frankfurt (SZF) – esteve no Cazaquistão a fazer um censo às três populações que vivem naquele país.

Na terça-feira passada, o Ministério da Agricultura da República do Cazaquistão divulgou os resultados do censo. Passado um ano, o número destes antílopes aumentou nas três populações, com um total de 108.300 animais.

A população de Betpak Dala tem hoje 36.200 adultos, a da região de Ural tem 70.200 e a de Ustyurt 1.900.

Antes da mortandade, a população da espécie contava 242.000 animais. Apesar de não ter conseguido recuperar na totalidade, estes 108.000 antílopes representam uma recuperação que permite ter esperanças. “As notícias sobre a recuperação das populações de antílopes saiga são um sinal de esperança depois da mortandade catastrófica de 2015”, comentou Bradnee Chambers, secretário-executivo da Convenção para as Espécies Migradoras (CMS), em comunicado da SZF.

Este antílope vive apenas na Rússia (uma população em Kalmykia, com 18.000 animais) e no Cazaquistão (três populações) e já se extinguiu da China, Moldávia, Polónia e Ucrânia. Segundo a UICN existiam 1.250.000 animais em meados da década de 70, a maioria dos quais no Cazaquistão.

Depois do colapso da União Soviética, o empobrecimento das populações rurais e a abertura das fronteiras com a China levaram a um enorme aumento da caça ilegal. Estes antílopes eram caçados por causa da sua carne e dos chifres, usados na medicina tradicional chinesa. Num período de 10 anos, a população destes animais caiu 95%. Em 2002 a espécie estava à beira da extinção e entrou para a Lista Vermelha da UICN.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.