um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Um milhão de euros para recuperar habitat do abutre-preto na Andaluzia

Nos próximos três anos serão investidos um milhão de euros para recuperar o habitat do abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa, na região de Huelva, na Andaluzia. Esta é a população mais importante de Espanha e também uma das mais ameaçadas, anunciou ontem a Junta andaluza.

 

O Projecto de Restauro de Habitats vai ser implementado nos municípios de Cortegana e Aroche, a cerca de 60 quilómetros da fronteira com Portugal. Segundo a Junta da Andaluzia, as intervenções consistirão, principalmente, “na eliminação de eucaliptos, na plantação de sobreiros e na colocação de protectores nas árvores já existentes”.

Em Portugal, o abutre-preto (Aegypius monachus) está classificado como Criticamente Em Perigo no Livro Vermelho dos Vertebrados (2005). Em 2016 existiam 15 casais no Tejo Internacional, um no Douro Internacional e quatro no concelho alentejano de Moura. A perda de habitat é uma das principais causas do declínio da espécie. Na Andaluzia, o abutre-preto tem estatuto de Vulnerável, com 366 casais reprodutores, correspondendo a 20% da população espanhola.

A destruição dos habitats e os trabalhos florestais descontrolados e agressivos para o Ambiente “são as causas que mais nos preocupam, além do acesso descontrolado de pessoas às áreas de nidificação”, explicou Alejandro Cejuela, coordenador naquela província do Plano de Recuperação e Conservação das Aves Necrófagas.

A época de reprodução e criação do abutre-preto dura aproximadamente entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, segundo a Junta da Andaluzia. “Por tratar-se de uma espécie muito sensível à presença humana e à alteração do habitat, é de importância vital o controlo de todas as intervenções florestais dentro da sua área de reprodução”, acrescentou Cejuela.

Nos próximos meses será feita uma planificação da gestão florestal na zona de Huelva, de forma a que seja compatível com a conservação do abutre-preto. Os técnicos vão ainda tentar perceber por que razão os abutres estão a deixar de nidificar em algumas zonas de distribuição histórica, como a Rivera del Aserrador.

Durante o mês de Maio vão começar a ser restringidos os acessos de pessoas algumas zonas da Paisagem Natural de Sierra Pelada e Rivera del Aserrador, nomeadamente de veículos motorizados. As restrições estarão em vigor até Setembro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.