Unesco reconhece mais duas reservas da Biosfera em Portugal

O Tejo Internacional e as Fajãs de São Jorge foram reconhecidas como Reservas da Biosfera pela Unesco, numa reunião em Lima (Peru) de 18 a 19 de Março. Portugal passa, assim, a ter 10 destas áreas.

 

Os penhascos, as turfeiras, as plantas e as aves da ilha de São Jorge (Açores) não passaram desapercebidas neste fim-de-semana em Lima (Peru) na reunião do Comité de Coordenação Internacional do Programa Científico O Homem e a Biosfera da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Nem tão pouco o rio Tejo, junto a Espanha, habitat para a lontra, abutre-preto e águia-imperial. As reservas em Portugal foram duas das 20 novas reservas aprovadas a pela Unesco.

Agora, existem no mundo 669 Reservas da Biosfera, em 120 países. Portugal tem 10: Paul do Boquilobo (1981), ilha do Corvo (2007), ilha da Graciosa (2007), ilha das Flores (2009), Transfronteiriça Gerês/Xurés (2009), Berlengas (2011), Santana – Madeira (2011) e Meseta Ibérica (2015).

A Reserva da Biosfera Tejo/Tajo Internacional é a terceira Reserva da Biosfera Transfronteiriça entre Portugal e Espanha, depois do Gerês/Xurés e da Meseta Ibérica.

 

Tejo/Tajo Foto: N. Vega/Unesco

 

Localizada na zona ocidental da Península Ibérica, esta nova reserva tem o rio Tejo como eixo central. Nesta região de floresta, áreas de cultivo e pastos ocorrem espécies raras, como a águia-imperial, a águia-de-Bonelli, a cegonha-preta, o abutre-preto e a lontra.

A Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge cobre toda a ilha, onde vivem cerca de 9.000 pessoas. O ponto mais alto é o Pico da Esperança, com os seus 1.053 metros de altitude. A Unesco salienta o valor dos penhascos junto ao mar e de uma paisagem única de prados de altitude, turfeiras e vegetação arbustiva.

 

Fajãs de São Jorge. Foto: Unesco

 

“A combinação de ecossistemas de altitude e costeiros resultou numa riqueza de flora terrestre endémica”, escreve a Unesco, sem esquecer a diversidade de invertebrados, artrópodes terrestres, moluscos e aves.

Na reunião em Lima foi aprovado ainda o alargamento de nove Reservas da Biosfera, uma delas a do Boquilobo. Esta passa a integrar também o município de Torres Novas, além da Golegã. “Este alargamento irá imprimir uma nova dinâmica neste território, o qual foi o primeiro português a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera, em 1981”, segundo o comité português da Unesco.

“Espera-se que estas novas Reservas da Biosfera portuguesas, assim como o alargamento da Reserva da Biosfera do Boquilobo, permitam um maior trabalho em rede entre as reservas da biosfera portuguesas e a nível internacional, permitindo um plano de ação conjunto que vise sobretudo conciliar a conservação e preservação da Natureza com a atividade humana, assente numa estratégia de desenvolvimento económico sustentável destas regiões, envolvendo de forma ativa as populações locais”, acrescenta.

As Reservas da Biosfera são áreas representativas dos principais ecossistemas mundiais (terrestres, marinhos e costeiros), estabelecidas pelos Estados-Membros da Unesco. “São territórios promotores de um desenvolvimento sustentável, com base na ciência e nos esforços das comunidades locais, contribuindo para a redução da perda da biodiversidade, a partir de uma abordagem científica, ambiental, social e de desenvolvimento, sendo que as leis em vigor são as existentes em cada um dos Estados-membros”, explica a Unesco.

Este ano entraram para a rede de Reservas da Biosfera áreas de países como o Canadá, Indonésia, Gana, Argélia, Índia, Itália e Reino Unido.

No 4º Congresso das Reservas da Biosfera, em Lima (de 14 a 17 de Março), os cerca de mil participantes adoptaram o novo plano de acção a 10 anos do Programa Científico O Homem e a Biosfera. O documento recomenda “um papel mais alargado e mais activo” das comunidades locais na gestão das reservas e na criação de “novas parcerias entre ciência e política, entre gestão nacional e local, entre os sectores privados e públicos”. Pede ainda o maior envolvimento de grupos de cidadãos e de organizações e uma maior colaboração com instituições científicas, como universidades e centros de investigação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.