lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

WWF sugere 12 auto-estradas para a vida selvagem na Península Ibérica

A organização WWF apresentou um mapa com as 12 “auto-estradas” imprescindíveis para a circulação da vida selvagem na Península Ibérica.

 

O relatório “Auto-estradas selvagens. Proposta para uma rede estratégica de corredores ecológicos entre espaços da Rede Natura 2000” foi apresentado a 9 de Março pela WWF espanhola. Este estudo, baseado no trabalho de especialistas da Universidade Politécnica de Madrid, sugere os 12 corredores ecológicos que é preciso conservar para “garantir a conectividade de espaços naturais e a mobilidade da fauna e flora ibérica”.

A WWF salienta que Espanha tem 27% do território protegido, mais concretamente pela Rede Natura 2000, “mas não há uma adequada ligação entre esses espaços”. “Grande parte deles estão afastados entre si pela proliferação de infra-estruturas como estradas ou por factores como a desflorestação ou a agricultura intensiva.”

Segundo estimativas científicas, referidas pela organização ecologista, a construção de infraestruturas causou uma redução de 50% no número de mamíferos selvagens em Espanha. Além disso, a expansão da agricultura intensiva “criou desertos de fauna e vegetação natural, nos quais os animais não têm refúgios para se reproduzir ou abrigar”.

As espécies afectadas são muito variadas, incluindo linces-ibéricos, ursos-pardos, veados, raposas, corujas e mochos, lontras, ouriços e ratinhos.

Para tentar resolver o problema, este estudo identifica 12 corredores prioritários para a fauna se deslocar na Península Ibérica e 17 pontos críticos nesses corredores que é preciso corrigir.

Entre os 12 corredores ecológicos – como o Corredor do Douro ou o Corredor Sierra Morena – Montes de Toledo – está o Corredor Português, na zona interior Norte e Centro e ainda em parte do Alentejo.

 

 

Santiago Saura, director da equipa de investigadores do estudo, disse à agência de notícias Europa Press que os corredores em melhores condições de conservação tendem a estar concentrados ao longo dos principais maciços montanhosos de Espanha, enquanto que os pontos mais frágeis tendem a atravessar paisagens com um intenso uso agrícola e baixa cobertura florestal.

Os 17 pontos críticos foram identificados por toda a Península Ibérica. “Têm um papel de ligação ecológica vital mas estão muito degradados, como por exemplo, as estreitas faixas de bosques ao longo das ribeiras, rodeados de campos de agricultura intensiva”, explica a WWF.

“Com este mapa mostramos que a natureza tem as suas próprias vias de comunicação, ainda que estejamos a ignorá-las. A partir de agora devemos respeitar e recuperar as nossas autoestradas selvagens para garantir o futuro da nossa biodiversidade”, acrescentou.

A WWF pede que esta proposta seja uma “ferramenta de uso diário no ordenamento do território e de consulta obrigatória antes da aprovação de novas políticas e projectos que prejudicam a biodiversidade e as infraestruturas naturais”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.