Apaguem as luzes pelos morcegos, diz estudo

Afinal, os morcegos não gostam assim tanto das luzes dos candeeiros de rua. Um novo estudo científico mostra que estes animais estão mais activos em locais mais escuros com um habitat semelhante.

A actividade do morcego-anão (Pipistrellus pygmaeus), do morcego-arborícola-gigante (Nyctalus lasiopterus) e do morcego-hortelão (Eptesicus serotinus) é semelhante ou mais reduzida em áreas iluminadas em comparação com as áreas às escuras, concluiu o estudo publicado hoje na revista “Philosophical Transactions of the Royal Society B”.

O morcego-anão só aumenta a sua actividade em locais onde também existe um grande número de locais de abrigo em árvores ou sebes de arbustos, acrescentam os autores do estudo, da Universidade de Exeter e da organização Bat Conservation Ireland. A única espécie para a qual a luz parece ser favorável é o morcego-arborícola-pequeno (Nyctalus leisleri).

Normalmente quando vemos morcegos é quase sempre a voar em redor de um ponto de luz na cidade, como os candeeiros de rua.
“As pessoas raramente vêem morcegos e quando vêem é porque passam em frente a uma zona iluminada e a sua silhueta fica visível”, diz Fiona Mathews, da Universidade de Exeter.
Além disso, nuvens de insectos acumulam-se em redor das luzes. Por isso, julgamos que os morcegos estão a ter um jantar fácil.

Mas, “para as espécies comuns, de importância vital para os nossos ecossistemas, a luz não ajuda. Nas últimas décadas, o número de candeeiros de rua e o brilho das luzes têm aumento imenso. Além disso, estamos a usar luzes mais fortes para iluminar as entradas das nossas casas. Precisamos urgentemente reverter esta tendência.”

O estudo analisou inquéritos feitos em Inglaterra e Irlanda, envolvendo mais de 265 mil vocalizações de morcegos e mais de 600 localizações. As ligações entre iluminação e morcegos foram estudadas em várias escalas espaciais, incluindo monitorizações feitas de automóvel por voluntários por toda a Irlanda ou censos mais curtos feitos de bicicleta, ou ainda monitorizações mais detalhadas ao longo de várias noites em locais específicos.

Apesar de, muitas vezes, serem tidos como cegos, os morcegos têm boa visão, adaptada a condições de luz fraca. “Quando saímos de uma sala iluminada para uma às escuras, demora algum tempo até os nossos olhos se habituarem à escuridão. O mesmo acontece com os morcegos”, explica Mathews. “Isto pode afectar a sua capacidade para caçar insectos. Assim, apesar de vermos um morcego às voltas e às voltas em redor de um candeeiro, ele pode estar, na verdade, a lutar para apanhar alguma coisa”, acrescenta.

Os investigadores acreditam que este estudo pode ter importantes implicações para a conservação dos morcegos.

Actualmente existem em Portugal continental 25 espécies de morcegos, três das quais em perigo de extinção (Morcego-de-ferradura-mediterrânico, o Morcego-de-ferradura-mourisco e o Morcego-rato-pequeno).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.