Caçadores vencem referendo em Malta

Malta vai continuar a caçar as aves que sobrevoarem o país nas suas migrações entre África e Europa na Primavera, algo proibido na Europa, depois do resultado a um referendo no sábado que rejeitou a proposta de uma moratória.

O “Sim” venceu o referendo por 2.220 votos ou 50,4% dos votos totais (250.648), noticiou o jornal “Times of Malta” neste domingo. Por isso, a caça durante a Primavera às aves migradoras vai continuar já nesta semana.

Do lado dos vencedores, o presidente da Federação dos Caçadores (FKNK), Joe Percici Calascione, apelou à calma. “Não ganhámos nada, apenas não perdemos”, citou o mesmo jornal. Em comunicado, a federação agradeceu aos cidadãos por este “histórico resultado”. Segundo a BBC, Calascione descreveu a caça como uma parte integrante das tradições em Malta.

O referendo foi proposto por uma petição que pedia a suspensão da caça entre 14 e 30 de Abril. Em causa estão várias espécies protegidas de aves que, na Primavera, atravessam Malta nas suas migrações de África para a Europa.

O lado do “Não”, co-liderado pela organização Birdlife, reconheceu a derrota. Esta é uma “oportunidade perdida para acabar com a matança das aves na Primavera, situação que a maioria das pessoas pensa que deveria terminar”, escreveu no Twitter o ramo da organização em Malta.

Ainda assim, a Birdlife garante que vai continuar a trabalhar para proteger as aves naquele país e espera que, ao primeiro sinal de ilegalidades, a caça seja suspensa. O primeiro-ministro Joseph Muscat, que declarou publicamente o seu apoio aos caçadores, garantiu que a legislação vai ser aplicada e quem a violar será punido.

A caça durante a Primavera está proibida em toda a União Europeia mas Malta recebeu uma autorização especial para caçar naquele período rolas-bravas e codornizes, depois de uma controversa decisão do Tribunal Europeu de Justiça, em 2009.

Ainda assim, o cumprimento da lei não está garantido. “Malta é um palco de guerra para as aves”, disse Steve Micklewright, director da Birdlife Malta, ao “The Guardian”. “Já vi águias feridas e até cucos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.