Crias que passam mais fome tornam-se aves mais gordas

As aves que têm um começo de vida mais difícil tornam-se adultos mais gordos e vorazes do que os seus irmãos, revela um estudo científico publicado na revista Animal Behaviour, que se baseou no caso dos estorninhos-malhados (Sturnus vulgaris).

 

 

O stress e as dificuldades que uma cria tem de suportar acabam por marcá-la para o resto da vida, nomeadamente na sua relação com o alimento, concluem os investigadores da Universidade de Newcastle, coordenados por Melissa Bateson e Clare Andrews.

Segundo o estudo, as crias mais pequenas de estorninho-malhado alteraram o seu comportamento alimentar quando adultas, resultando numa maior massa corporal.

“Acumular reservas de gordura como segurança para eventuais episódios de escassez de alimento é um mecanismo de sobrevivência”, diz Clare Andrews, do Centro para o Comportamento e Evolução naquela universidade. “O que mostramos é que as aves que tiveram de lutar mais pelo alimento com os seus irmãos maiores, enquanto crias, estão mais dispostas a procurar comida e tendem a comer em excesso quando chegam à idade adulta”, acrescenta.

Para chegar a estas conclusões, os investigadores colocaram crias de estorninho mais pequenas em ninhadas com aves maiores. Estas crias tiveram de lutar mais para serem alimentadas, gastando mais energia a chamar os progenitores e a tentar ganhar um lugar mais favorável no ninho. As crias mais “desfavorecidas” foram comparadas com crias maiores.

Dez dias depois, os investigadores deram a todas as mesmas condições alimentares, para que apenas os primeiros dias de vida fossem diferentes.

Mais tarde na vida, estas mesmas aves tiveram de escolher alimento fácil – migalhas acessíveis – ou alimento mais difícil – migalhas escondidas na areia. As aves que tiveram mais dificuldades no início de vida passaram mais tempo à procura das migalhas escondidas e comeram mais das migalhas de fácil acesso. As outras optaram por ser mais moderadas.

Os cientistas suspeitam que as aves que foram crias pequenas comportam-se como se o alimento fosse faltar, sugerindo que têm uma “memória da fome”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.