Inglaterra debate regresso dos linces 1300 anos depois

A organização conservacionista Lynx UK Trust lançou neste domingo uma consulta pública para saber a opinião dos cidadãos sobre o mais ambicioso projecto britânico de “rewilding” de sempre.

O lince euro-asiático (Lynx lynx) extinguiu-se nas florestas de Inglaterra há 1300 anos. Agora, a organização Lynx UK Trust desafia os britânicos a tornar realidade o regresso da espécie à Inglaterra e Escócia.

Se o plano for aprovado, entre quatro a seis linces, com colares GPS, podem ser libertados no final deste ano em três propriedades privadas em Norfolk, Cumbria e Aberdeenshire, noticia o jornal “Telegraph”.

“O lince é um dos felinos mais enigmáticos e bonitos do planeta”, disse Paul O’Donoghue, conselheiro científico da organização. “O campo rural inglês está a morrer e o lince poderá fazer com que renasça.”

A consulta pública serve para saber a reacção das populações ao regresso do lince a Inglaterra e Escócia. Caso seja positiva, a organização vai endereçar um pedido formal para a reintrodução da espécie junto das agências governamentais, Natural England e Scottish Natural Heritage.

Um dos trunfos para a reintrodução é que o facto de que o lince poderia ajudar a controlar a população britânica de mais de um milhão de veados selvagens, actualmente sem predadores naturais.

Na Península Ibérica está a decorrer a reintrodução de uma outra sub-espécie de lince, o lince-ibérico (Lynx pardinus), em quatro regiões (três em Espanha e uma em Portugal). Este felino, mais pequeno, alimenta-se, principalmente, de coelho-bravo.

Há pouco mais de um mês, um outro projecto de “rewilding” havia sido notícia em Inglaterra. A 2 de Fevereiro, a Natural England emitiu uma licença para o Devon Wildlife Trust monitorizar, durante cinco anos, a única população reprodutora de castores, em estado selvagem, no país. Esta tinha sido encontrada em 2014, no rio Otter em Devon. Mas o Governo britânico anunciou a sua intenção de capturar e remover os animais, justificando a sua decisão com riscos para a saúde humana devido a uma doença que os castores poderiam transmitir. Mas, segundo os conservacionistas, o Governo acabou por mudar de opinião, uma vez que a doença não está presente no Reino Unido. Além disso foi preponderante o apoio das populações locais ao regresso dos castores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.