Naturalistas espanhóis pedem aposta na convivência entre lobo e gado

A organização Ecologistas em Acção apelou ao governo regional de Castela-La Mancha para investir mais na convivência entre o gado e os lobos-ibéricos da região e para acabar com a “constante estigmatização” destes animais selvagens.

 

Esta tomada de posição depois de, na semana passada, um grupo de criadores de gado na Serra Norte de Guadalajara ter pedido ao governo regional uma intervenção “rápida e eficiente” para reduzir os danos causados por ataques de lobo.

Os Ecologistas em Acção opõem-se a qualquer tipo de controlo de população e defendem a elaboração de planos de conservação. A presença de lobo, dizem, é fundamental para a regulação do ecossistema. Por isso, acrescentam, as autoridades devem “tomar todas as medidas necessárias para evitar danos ao gado” com medidas que assegurem uma convivência entre as espécies.

“Está amplamente demonstrado que, se forem tomadas uma série de medidas, a primeira das quais será assumir que é preciso conviver com a presença do lobo, e não eliminá-lo ou expulsá-lo. A criação de gado é completamente viável e compatível”, explica a organização num comunicado citado pela agência de notícias espanhola EFE.

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma espécie protegida em Castela-La Mancha, região do centro de Espanha onde vivem mais de dois milhões de habitantes. Nesta província, o lobo está Em Perigo de extinção desde 1998.

O problema é que a espécie “tem um nível de perseguição muito grande”, explicou Miguel Ángel Hernández, porta-voz regional dos Ecologistas em Acção, ao jornal espanhol ABC, em Maio deste ano. Nas populações da Serra Morena, Valle de Alcudia e Serra Madrona foi a caça que causou o quase desaparecimento do lobo; já na província de Guadalajara (Serra Norte e Alto Tejo) a principal questão é a “permanente tensão” com os criadores de gado.

“Há um grande interesse a nível geral para que o lobo recupere terreno, já que é uma espécie emblemática do nosso património natural e muitos sectores pedem uma maior protecção para a espécie”, acrescentou Miguel Ángel Hernández. “Mas nas zonas rurais, este animal é o que expia as culpas dos problemas destes espaços”. O responsável acredita que o caminho é apostar em medidas de conservação que avancem, lado a lado, com políticas de investimento nas actividades tradicionais nas zonas rurais.

A população de lobo-ibérico (Canis lupus signatus), espécie protegida em Portugal desde 1988, está estimada em 2800 animais, 300 dos quais em Portugal, segundo o último censo nacional ao lobo-ibérico feito há mais de dez anos.

 

 

[divider type=”thin”]Sobre a questão da convivência entre lobo e populações humanas, pode saber mais neste artigo que publicámos em Junho.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.