Plano para erradicar uso ilegal de venenos debatido por peritos europeus

Trinta e cinco peritos de 20 países, que fazem parte da Rede Europeia contra os Delitos Ambientais (ENEC, sigla em inglês) estão reunidos nesta sexta-feira em Barcelona para analisar um esboço de um plano de acção europeu contra o uso de iscos envenenados na União Europeia.

 

Os trabalhos, a decorrer no Museu de Ciências Naturais de Barcelona, são organizados pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife), organização que esta semana revelou ter encontrado cadáveres de dois abutres negros (Aegypius monachus) e de dois grifos (Gyps fulvus) nas imediações do Centro de Tratamento de Resíduos de Ávila (Castela e Leão). “O mais provável é que (estas aves) tenham falecido depois de se alimentarem nesse local, o que lhes poderá ter causado alguma intoxicação, envenenamento ou doença”, diz a SEO em comunicado.

Para a organização, os iscos envenenados são “uma das maiores ameaças que afecta a nossa fauna silvestre”. Em Barcelona será discutido um esboço de um plano para tentar resolver este problema a nível da União Europeia.

Por agora sabe-se que o documento prevê a necessidade de ampliar e melhorar o conhecimento sobre este delito; propor acções de prevenção, dissuasão e vigilância; aumentar a eficácia das investigações e controlar a venda de substância tóxicas susceptíveis de serem usadas para iscos.

Este esforço surge no âmbito da Rede Europeia contra os Delitos Ambientais, criada em 2014 pela SEO/Birdlife e pela Royal Society for the Protection of Birds (RSPB). Dela fazem parte advogados, profissionais do Direito e autoridades encarregadas de lutar contra o crime ambiental.

Em Portugal, os iscos envenenados são um problema que preocupa quem trabalha na conservação da natureza. De 1992 a 2014 morreram envenenados 233 indivíduos de espécies protegidas em Portugal, segundo dados do Programa Antídoto, plataforma que reúne 29 entidades para combater o uso ilegal de venenos. No topo desta lista surgem 77 grifos, 29 lobos e 21 milhafres-reais. Mas também morreram ginetas, abutres-pretos, britangos, águias-reais, águias-d’asa-redonda e cegonhas-brancas.

No mês passado foram constituídas, pela primeira vez, equipas cinotécnicas de militares e cães da GNR para detecção de venenos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.