Aterradora mas essencial

Certo dia de Março, a correspondente da Wilder Mafalda Ferreira de Lima teve um encontro inesperado com uma espécie que, diz, é “aterradora mas essencial”.

 

É raro assustar-me com alguma coisa aqui pela quinta, por isso lembro-me bem das poucas vezes que tal aconteceu. Esta foi uma delas.

Era já final de tarde. Andava de um lado para o outro, a prender e a alimentar os animais, quando me apercebi de uma criatura arrepiante a deslizar, a toda a brida, pela calçada. Tinha um tamanho considerável e era pernuda! Era uma centopeia-amarela, também conhecida como escolopendra.

Admito que nunca tinha visto esta espécie antes e o meu primeiro instinto foi trepar para cima dos fardos de palha e chamar-lhe todo o tipo de nomes. O segundo instinto (ao qual atendi) foi ser racional, tirar proveito deste momento e ficar a conhecer mais um dos muitos e curiosos habitantes desta quinta.

 

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Esta espécie de centopeia é uma das menores da família Scolopendridae. Em contrapartida, é a maior de Portugal e da Europa, podendo atingir os 15cm de comprimento. Nativa do nosso continente, está distribuída de forma vasta, podendo ser encontrada a sul da Europa e à volta do mar Mediterrâneo.

Na fase de adulta, a escolopendra pode variar entre castanha, castanha-avermelhada ou até mesmo castanha-amarelada. As suas antenas são amarelas e apresenta entre 17 a 31 segmentos, chamados tergitos. Estes são traçados a escuro na parte final.

Enquanto juvenil é amarela com a cabeça em tons de laranja e a marca escura dos tergitos azul. Tem 21 pares de patas e o último é visivelmente maior e mais robusto.

 

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Passa o dia em lugares escuros e húmidos, sob rochas, troncos e amontoados de folhas. Na verdade, tal deve-se à falta de uma cutícula serosa no seu exosqueleto, o que a torna muito vulnerável. Quando exposta directamente à luz do dia, seca rapidamente.

Quando perturbada, esta centopeia recorre quase sempre à fuga. No entanto, se se sentir ameaçada directamente, usará como defesa a sua mordida tóxica.

É uma centopeia carnívora como todos os outros membros que compõem o gênero Scolopendra.

Semelhante a outras centopeias, alimenta-se principalmente de pequenos insectos, como abelhas, moscas, vespas e formigas. Se for grande o suficiente em tamanho, esta centopeia também pode incluir  pequenos ratinhos e aranhas na sua deita, constituída essencialmente por outros artrópodes que mata injectando veneno.

 

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A técnica de ataque é bastante interessante, usando as patas traseiras para agarrar a presa. De seguida, torce o tronco até conseguir injectar o veneno com as pinças que se encontram na cabeça (primeiro segmento do corpo). O veneno é um tóxico que provoca paralisia ou até morte, semelhante ao de uma picada de escorpião. A mordida pode ser repetida várias vezes até garantir a morte da presa escolhida. Pode ainda recorrer ao canibalismo e a necrofagia, sendo, no entanto, pouco comum. De notar que, embora a maioria das pessoas não seja muito afectada pelo veneno da centopeia-amarela, algumas podem ser alérgicas ou apenas mais sensíveis, tornando assim, a interacção imprudente com esta espécie uma situação perigosa. De referir ainda que os seus principais predadores são as aves.

 

 

Pese embora seja capaz de administrar uma mordida dolorosa, a Scolopendra cingulata tem um papel essencial na manutenção de jardins e culturas agrícolas! É excelente no controlo de pragas, consumindo insectos indesejados, fazendo-o de forma natural e inofensiva para o nosso ambiente, valorizando, assim, o produto (quando não são usados pesticidas) e aumentando a produção da colheita de forma biológica.

 

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