Charcos com Vida lança apelo para proteger charcos de Portugal

Uma campanha para criar e manter charcos, naturais ou urbanos, de Norte a Sul do país e para conhecer melhor as espécies de aves, anfíbios e insectos que deles dependem vai ser lançada nesta sexta-feira pelo projecto Charcos com Vida.

 

A meta do Charcos com Vida, nas mãos do Centro de Investigação CIIMAR da Universidade do Porto, é angariar 9.000 euros para poder continuar em 2017 o seu trabalho de conservação dos charcos e de envolvimento e apoio aos cidadãos para descobrirem e valorizarem estes pontos de água.

Os charcos providenciam habitat e alimento para dezenas de espécies de invertebrados, anfíbios, répteis, aves, mamíferos e plantas aquáticas. “Estes pontos de água são ilhas de biodiversidade e estão cheios de vida. Apesar de muitas vezes só conseguirmos ver rãs-verdes, há muitas outras espécies que vivem nas águas de um charco ou de um tanque, no campo ou na cidade”, explicou hoje à Wilder Ana Ferreira, responsável pela coordenação do projecto.

 

Rã-verde recém metamorfoseada. Foto: Daniela Barbosa
Rã-verde recém metamorfoseada. Foto: Daniela Barbosa

 

De 28 de Outubro a 15 de Dezembro estará a decorrer a campanha de Crowdfunding “Não deixe os Charcos sem Vida!”, para garantir a construção de mais 20 charcos, a inventariação de mais 174 charcos e o apoio a escolas (num total de 1.060 alunos) e a 390 profissionais. A campanha precisa deste financiamento também para disponibilizar três novos guias e chaves de identificação de espécies e para o desenvolvimento de estudos científicos.

O projecto Charcos com Vida começou em 2011 e desde então criou um inventário nacional que hoje tem mais de 1.820 charcos, de Norte a Sul do país. Além disso ajudou a criar 96 charcos e falou destes habitats em inúmeras escolas.

 

Foto: Ana Ferreira
Foto: Ana Ferreira

 

“Já temos muito trabalho feito, sendo o único projecto nacional do estudo de charcos e do envolvimento dos cidadãos” no país, acrescentou a responsável. “Mas ainda temos muito caminho a percorrer. Uma das coisas que queremos estudar é o uso dos charcos para limpeza de águas urbanas nas cidades.”

Para 2017, o projecto prevê dedicar-se mais aos charcos e pontos de água nas cidades. “Queremos desenvolver mais esta vertente urbana porque é onde as pessoas mais se concentram. Além disso, os pontos de água urbanos – como charcos, tanques ou fontes – são ilhas de biodiversidade e conseguem ser ocupados por inúmeras espécies”, acrescentou. Ana Ferreira deu o exemplo do tanque no Jardim das Virtudes, no Porto, onde vivem sapos-parteiros e salamandras-de-pintas-amarelas.

Os charcos nas cidades podem ainda ajudar a controlar pragas de insectos. “Um charco bem conservado tem espécies que conseguem controlar os mosquitos em todo o seu ciclo de vida.” Enquanto são larvas, são predados pelas larvas de libélulas, rãs ou sapos. E quando começam a voar, os mosquitos são caçados por morcegos e aves, como as andorinhas.

 

Foto: Daniela Barbosa
Foto: Daniela Barbosa

 

Actualmente, os charcos de Portugal são habitats ameaçados. José Teixeira, coordenador do projecto, explica que tal se deve à expansão das zonas urbanas, às alterações das práticas agrícolas e ao abandono da agricultura tradicional, à poluição e às espécies exóticas invasoras.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode participar nesta campanha, ajudar a completar o inventário nacional de charcos ou até construir um charco. O Outono e o Inverno são as melhores alturas do ano para criar um charco, aproveitando a época das chuvas e permitindo um período de maturação. Segundo Ana Ferreira, em quatro meses, o charco estará perfeitamente estabelecido, pronto para o pico de actividade, de Março a Maio.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Ouça aqui o som das rãs-verdes num charco de Lisboa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.