Vaca-loura. Foto: João Gonçalo Soutinho

Cidadãos aumentaram em 36% área de distribuição conhecida para a vaca-loura em Portugal

O projecto português de Ciência Cidadã VACALOURA.pt, 100% voluntário, conseguiu num ano aumentar em 36% a área de distribuição conhecida para a vaca-loura, o maior escaravelho da Europa, graças a 500 cidadãos, segundo um artigo publicado recentemente.

 

Em 2016, cerca de 500 pessoas ajudaram a Rede de monitorização da vaca-loura em Portugal, com a confirmação do avistamento de 552 lucanídeos em Portugal, segundo o artigo que faz o balanço do primeiro ano do projecto. Este artigo foi publicado a 20 de Novembro na revista Lucanus – Ambiente e Sociedade, lançada este mês pela Câmara Municipal de Lousada, em parceria com o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.

O objectivo deste projeto de ciência cidadã é reunir informação sobre a distribuição e o estado das populações da vaca-loura e de mais três espécies de escaravelhos da família Lucanidae em Portugal (Lucanus barbarossa, Dorcus parallelipipedus, Platycerus spinifer).

A participação voluntária no projeto pode ser feita de duas maneiras: o registo esporádico das espécies e a adoção de percursos de monitorização de 500 metros. 

Durante o primeiro ano, os dados recolhidos pelos cidadãos “permitiram aumentar em 36% a área de distribuição conhecida para a vaca-loura em Portugal e ainda aumentar em 33 e 47% a área de distribuição conhecida das espécies Dorcus parallelipipedus e Lucanus barbarossa, respetivamente”, acrescentam os autores do artigo.

Braga foi o distrito com maior número de avistamentos, grande parte dos quais no Parque Nacional da Peneda-Gerês, seguindo-se os distritos do Porto e Aveiro.

Os dados recolhidos ajudaram ainda a perceber os padrões de atividade temporal destas espécies em estado selvagem, “informação muito relevante para futuros estudos de monitorização e conservação das espécies”.

Assim, conseguiu-se perceber que Junho é o mês em que mais facilmente se observam estes escaravelhos em Portugal. Mas há registos destes animais desde Abril a Setembro.

As populações de vaca-loura (Lucanus cervus) enfrentam um declínio generalizado. Este escaravelho é a espécie bandeira dos invertebrados dependentes da madeira morta. “Este grupo de organismos representa cerca de 30% das espécies florestais a nível mundial, pelo que urge conhecer a sua distribuição e principais ameaças à sua conservação.”

No futuro pretende-se continuar com a monitorização, com o objetivo de obter informação suficiente para averiguar os principais fatores de ameaça que as populações desta espécie enfrentam em Portugal, bem como delinear estratégias de conservação mais eficazes. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.