Lançada campanha contra lixo plástico no Estuário do Sado

O lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus) é um bivalve que vive enterrado nas areias dos estuários e é muito procurado por mariscadores. Na Sexta Feira Santa é lançada uma campanha no estuário do Sado contra a poluição causada pelas embalagens de sal de plástico usadas para apanhar este animal. Todos estão convidados a participar.

 

É durante a maré baixa que centenas de mariscadores apanham o lingueirão deitando sal fino para as suas tocas. Como este animal tem uma concha muito sensível às perturbações de salinidade e temperatura, rapidamente emerge à superfície da areia e é apanhado.

No entanto, “uma parte dos mariscadores do lingueirão deixa as embalagens de plástico de sal vazias na beira-mar”, diz a Ocean Alive, organização sem fins lucrativos para a educação marinha. Esta estima que cada mariscador utilize cerca de 10 embalagens por maré.

Para a Sexta Feira Santa, por tradição o grande pico anual de afluência de mariscadores, a organização lança uma campanha de sensibilização que pretende “evitar que centenas de embalagens de plástico de sal sejam incorporadas” no Estuário do Sado e acabem no mar.

Para combater este problema, a campanha será feita junto dos mariscadores, sensibilizando-os para não deixarem na vasa as embalagens vazias, e recolhendo e reciclando as embalagens. Vão ser distribuídos sacos reutilizáveis para os plásticos e estes serão depois recolhidos pela Câmara Municipal de Setúbal e reciclados pela empresa Extruplas.

 

Embalagens de sal no Estuário do Sado. Foto: Ocean Alive
Embalagens de sal no Estuário do Sado. Foto: Ocean Alive

 

“O lixo plástico tornou-se o problema mais grave que afecta o ambiente marinho”, segundo um relatório sobre plásticos nos oceanos publicado em 2014 pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), através do seu Programa Global Marinho e Polar.

Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a organização Ocean Alive. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

A nível mundial, a UICN defende que é urgente “reduzir ou impedir a chegada dos plásticos aos oceanos, monitorar o tipo e a quantidade de plásticos e melhorar o conhecimento sobre os seus efeitos no ambiente, nas espécies e nos ecossistemas”.

De acordo com o relatório da UICN, entre 50 e 80% do lixo nas zonas costeiras do planeta é lixo plástico. “A sua presença foi detectada desde as profundezas dos oceanos às zonas costeiras de todos os continentes.” Os tipos de lixo mais encontrados são tampas de garrafas, garrafas, sacos, embalagens, copos, pratos e talheres e palhinhas.

Em Setembro, um estudo ao risco de ingestão de plásticos nas aves marinhas do planeta concluiu que 90% de todas as aves marinhas vivas hoje já ingeriram algum tipo de plástico.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Se quiser participar como voluntário na acção no Estuário do Sado – na vasa e em terra -, inscreva-se em [email protected]. A actividade vai decorrer na margem Norte do Estuário do Sado (Eurominas e Gâmbia), a 25 de Março, entre as 08h00 e as 13h00.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.