Mais de 600 voluntários já tiraram 11 toneladas de lixo do Estuário do Sado

Em nove dias, mais de 600 pessoas juntaram-se para tirar 11.260 quilos de lixo do Estuário do Sado, local de grande importância para a biodiversidade, no âmbito da campanha “Mariscar SEM Lixo”. A última acção aconteceu no sábado passado, quando foram recolhidos 1.230 quilos.

 

No sábado, dia 26 de Novembro, o tempo não esteve para brincadeiras mas mesmo assim vários voluntários saíram de casa para participar na 9ª acção da campanha. Desta vez, a limpeza aconteceu na margem Norte do estuário do Sado, ao longo de 750m na margem da cintura industrial, entre as empresas The Navigator Company e Lisnave.

Segundo a Ocean Alive, entidade organizadora da campanha, os voluntários recolheram 1.230 quilos de lixo. Desses, 90 quilos de vidro e 18 quilos de plástico foram enviados para reciclagem.

No sábado foram também recolhidas 1.440 embalagens de sal, provenientes da mariscagem do lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus) e do casulo no estuário. Todas as embalagens de sal recolhidas são guardadas pela Ocean Alive para exposição ao público em ações de sensibilização.

A Campanha começou em Março deste ano, na Sexta-feira Santa, por tradição o grande pico anual de afluência de mariscadores no estuário, sítio da Rede Natura 2000 e casa da única população de golfinhos residente no nosso país.

O grande objectivo da campanha é retirar o lixo marinho do Estuário do Sado, envolvendo a sociedade, e acabar com o mau hábito dos mariscadores do lingueirão e do casulo em deixar as embalagens de sal na maré.

É durante a maré baixa que centenas de mariscadores apanham o lingueirão deitando sal fino para as suas tocas. Como este animal tem uma concha muito sensível às perturbações de salinidade e temperatura, rapidamente emerge à superfície da areia e é apanhado.

No entanto, “uma parte dos mariscadores do lingueirão deixa as embalagens de plástico de sal vazias na beira-mar”, diz a Ocean Alive. Esta estima que cada mariscador utilize cerca de 10 embalagens por maré.

“O lixo plástico tornou-se o problema mais grave que afecta o ambiente marinho”, segundo um relatório sobre plásticos nos oceanos publicado em 2014 pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), através do seu Programa Global Marinho e Polar.

Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a Ocean Alive. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

A nível mundial, a UICN defende que é urgente “reduzir ou impedir a chegada dos plásticos aos oceanos, monitorar o tipo e a quantidade de plásticos e melhorar o conhecimento sobre os seus efeitos no ambiente, nas espécies e nos ecossistemas”.

De acordo com o relatório da UICN, entre 50 e 80% do lixo nas zonas costeiras do planeta é lixo plástico. “A sua presença foi detectada desde as profundezas dos oceanos às zonas costeiras de todos os continentes.” Os tipos de lixo mais encontrados são tampas de garrafas, garrafas, sacos, embalagens, copos, pratos e talheres e palhinhas. Em Setembro, um estudo ao risco de ingestão de plásticos nas aves marinhas do planeta concluiu que 90% de todas as aves marinhas vivas hoje já ingeriram algum tipo de plástico.

A Ocean Alive é uma organização sem fins lucrativos que pretende “transformar comportamentos para a protecção do oceano, nomeadamente das pradarias marinhas do estuário, através da educação marinha e do envolvimento das comunidades costeiras locais”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.