Num só dia 40 cidadãos descobriram 130 espécies no Jardim Botânico do Porto

Chegaram equipados com guias de identificação e binóculos, prontos para trabalhar. Em apenas 12 horas, os cerca de 40 participantes no Bioblitz do Jardim Botânico do Porto contaram todas as espécies que conseguiram encontrar. A primeira lista deste espaço verde urbano está feita: 130 espécies certinhas.

 

Maria João Fonseca, bióloga e assessora de Comunicação do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto e no CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), abriu os portões do Jardim Botânico do Porto às 07h30 de sábado dia 2 de Julho. Antes, às 06h00, tinham sido instaladas as redes para capturar aves. E dias antes tinham sido espalhadas pelos quatro hectares do Jardim quatro câmaras e 30 armadilhas para micro-mamíferos. Tudo estava pronto. Assim começava o primeiro Bioblitz daquele jardim, uma iniciativa inserida nos eventos preparatórios da Noite Europeia dos Investigadores, a 30 de Setembro.

 

 

Mas às 07h30, Maria João apanhou uma surpresa. “Quando abri os portões, estavam já duas pessoas à espera. Pensei que teríamos de esperar para que as pessoas começassem a aparecer”, contou à Wilder.

E, aos poucos e poucos, foram mesmo aparecendo, até chegar perto das 40. Ao longo do dia, 15 investigadores do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e do CIBIO-InBIO ajudaram os voluntários a esquadrinhar o Jardim.

 

 

Os cidadãos naturalistas tinham apenas hora e meia para cada grupo de espécies. Ao longo das 12 horas foi tomando forma a lista de espécies do Jardim: 16 espécies de aves – como a carriça e o chapim-real -, cinco de mamíferos – como um musaranho -, três de anfíbios (tritão-marmoreado, tritão-de-ventre-laranja e rã-verde), uma de réptil, 24 insectos, três fungos, 56 briófitas (grupo do qual fazem parte os musgos) e 22 líquenes.

 

 

“Não tivemos muitas pessoas mas as que vieram estavam muito motivadas. Vinham com curiosidade e para trabalhar. Houve quem viesse totalmente equipado, com guias de campo e binóculos”, contou Maria João Fonseca. “Várias pessoas passaram todo o dia no Jardim, incluindo as duas pessoas que já estavam nos portões às 07h30. Outras chamaram o resto da família.”

 

 

Agora, os dados recolhidos serão publicados no Biodiversity4all, plataforma nacional de registo da biodiversidade. Além disso, “foram recolhidos alguns exemplares de insectos que já estão a ser identificados”. Mas, segundo a bióloga, isto “é apenas um ponto de partida. A inventariação dos grupos vai ser continuada.”

 

 

Na sua opinião, um Bioblitz é importante a vários níveis, a começar pela importância científica. “Esta é a inventariação de uma grande diversidade de grupos com muitas pessoas motivadas. Tivemos o apoio de mais pessoas do que seria normal.” Na verdade, este evento permitiu fazer o primeiro registo das plantas não vasculares do Jardim.

 

 

E depois é importante para as pessoas. “Estas iniciativas permitem um contacto directo com a natureza e com os especialistas. E tudo ao ar livre.” Maria João Fonseca lembrou ainda que ao participar num Bioblitz, o cidadão está a participar num trabalho real. “Isto não é uma simplificação ou uma simulação.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.